Poluição na China e o que o ártico aquecido tem a ver com isso.

02/04/2017 às 01:50
por Leandro Bellato

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A qualidade do ar nas metrópoles chinesas piora a cada inverno: e o Aquecimento Global é um dos culpados.

A planície do leste e nordeste da China abriga os 74 maiores agrupamentos urbanos do país e a maioria de suas maiores metrópoles, onde mora quase metade da enorme população chinesa. As indústrias locais, a queima de combustível veicular do intenso tráfego chinês e o aquecimento baseado na queima de combustíveis fósseis são mais do que o suficiente para poluir bastante o ar na região, mas em geral os ventos de oeste aliviam a situação ao "varrer" para leste, para o oceano, o material particulado em suspensão, oriundo de fontes poluidoras. 


Entretanto, nos últimos poucos anos a situação já muito ruim desta área se agravou significativamente durante o inverno e início da primavera. O ar sobre a região passou a ficar muito mais estável, dificultando a dispersão dos poluentes, cuja concentração aumenta dia após dia. Durante o inverno de 2013, a concentração de material particulado fino, o mais perigoso à saúde humana, superou em cerca de dez vezes o limite máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde, um evento sem precedentes, causando no total cerca de 90000 (noventa mil) mortes relacionadas a problemas decorrentes da poluição, geralmente agravando quadros pré-existentes de problemas respiratórios e cardiovasculares. 

Poluição sobre o nordeste da China em 2013



Desde então a China tem adotado medidas de drástica redução de poluentes durante o inverno, impedindo que o inverno de 2013 se repita, mas os problemas com a poluição persistem e tendem a piorar. A questão passou a ser de interesse de cientistas do mundo inteiro, que observaram uma forte correlação entre temperaturas mais elevadas no Ártico, menor cobertura de gelo marítimo no Oceano Ártico e maior extensão de neve no nordeste da Ásia com a estagnação das massas de ar no nordeste da China. 

Em outra ocasião* já foi discutido como o Aquecimento Global contribui para nevascas fora de época e ondas de frio na Sibéria, Canadá e norte da Europa. Basicamente, com o mar aquecido no Ártico forma-se menor cobertura de gelo sobre o mar, o ar mais gelados "escapa" para o sul, onde condensa a umidade local formando nevascas e por vezes causando ondas de frio. 

Entre as alterações locais causadas pelo aquecimento do Ártico está o reposicionamento da Alta Pressão da Sibéria mais para leste, deixando o nordeste da china na borda desta grande área sobre a qual predomina alta pressão atmosférica por várias semanas, chegando a meses. Em ambientes de alta pressão o ar costuma se manter verticalmente, além de que as reduzidas temperaturas do inverno asiático dificultam o deslocamento das massas de ar. Assim, com uma intensa e persistente massa de ar posicionada mais a leste, a planície chinesa fica submetida a uma condição que dificulta bastante a dispersão dos poluentes durante o inverno e início da primavera. 

* A ocasião na qual foi mencionada a relação entre aquecimento do Ártico, redução do gelo oceânico e nevascas se encontra aqui: Neve Fora de Época.