Expedição científica passará um ano no Ártico

23/09/2019 às 08:17
por Redação

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Missão inédita visa estudar efeitos das mudanças climáticas no "epicentro do aquecimento global"

Uma equipe de cientistas de 19 países inicia nesta sexta-feira (20/09) uma expedição ao Ártico, onde deverão permanecer durante um ano em um navio encalhado no gelo polar.

 

No projeto de duração mais longa já realizado na região, os cientistas a bordo do navio científico quebra-gelo Polarstern ("Estrela polar", em alemão) esperam obter uma compreensão mais ampla sobre os efeitos das mudanças climáticas na região e em todo o mundo.

 

Na missão MOSAiC (sigla em inglês para Observatório Flutuante Multidisciplinar para o Estudo do Clima do Ártico), que custou 140 milhões de euros, os pesquisadores realizarão estudos sobre a atmosfera, os oceanos, o gelo marinho, os ecossistemas e os processos naturais.

 

"Nenhuma outra região do mundo se aqueceu tão rapidamente como o Ártico nas últimas décadas", afirmou o chefe da missão, o pesquisador da atmosfera Markus Rex. "No começo deste ano, tivemos um caso extremo quando esteve mais quente na parte central do Ártico do que a Alemanha."

 

Segundo Rex, o Ártico é "quase o epicentro do aquecimento global". "Ao mesmo tempo, sabemos muito pouco sobre essa região", observou.

 

O navio Polastern ficará encalhado no Ártico durante um ano e servirá de base para os cientistas da expedição MOSAiC

 

Clima no Ártico

 

A inédita permanência de cientistas por um ano na região permitirá, pela primeira vez, observar os processos do clima no Ártico em todas as estações. A esperança é que seja possível obter previsões mais exatas sobre o clima no futuro. "Não conseguiremos prever com precisão o nosso clima se não tivermos previsões confiáveis para o Ártico", disse Rex.

 

O Polarstern, que pertence ao instituto alemão de pesquisas marinhas e polares Alfred Wegener, partiu de Tromso, na Noruega e ficará atracado a um enorme iceberg antes de flutuar por quase um ano na região central do Ártico. O gelo ao redor da embarcação deve chegar a ao menos 1,5 metros de espessura, com a aproximação do inverno.

 

Uma frota de quatro navios quebra-gelo da Rússia, China e Suécia, além de aviões e helicópteros, reabastecerá o navio e fará a rotação dos membros da tripulação. Uma vez encalhado, o Polarstern abrigará cerca de 100 integrantes da expedição por turno. No total, 300 cientistas se revezarão em períodos de dois meses de duração.

 

A missão, em sua jornada de 2,5 mil quilômetros que levou oito anos para ser planejada, deverá enfrentar temperaturas de - 45º C e atravessar um período de 150 dias de total escuridão. Ao redor do Polarstern, será erguida uma miniatura de uma cidade científica sobre o gelo, dividida em seções para evitar que uma pesquisa possa interferir em outras.

 

Um delas estabelecerá um ponto de lançamento de robôs subaquáticos que pesquisarão o mundo abaixo do gelo e o leito marinho, enquanto outra servirá como base de análises do gelo e da neve, avaliando a interação com o ar e a água.

 

Uma terceira seção será voltada para o estudo da água marinha, com uma tenda aquecida armazenando amostras acima da temperatura de congelamento, e a última delas trabalhará com mastros com sensores e balões de pesquisa atmosférica.

 

Christian Haas, um dos chefes da expedição, observa que os processos naturais e as condições mudam significativamente durante as estações do ano. "No inverno, examinaremos os fatores que afetam o congelamento e o crescimento do gelo. No verão, ocorre o contrário; o gelo derrete e a cobertura se quebra para formar campos de gelo", afirmou Haas à DW.

 

"Como o gelo envelhece durante muitos anos, queremos pesquisar a relação entre o congelamento de inverno e o derretimento no verão para avaliar se o gelo está ficando mais fino ou mais grosso", explicou.

 

A paisagem será completa com uma pista de pousos e decolagens e uma rede de sensores a 50 quilômetros do navio. A missão contará também com uma equipe de seis pontos de vigia para averiguar a aproximação de ursos polares.