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Salvador tem dezembro mais chuvoso em 32 anos

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13 min de leitura

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Foto: Istock

Por: Fabiene Casamento


O estado da Bahia está tendo chuva em excesso e acima da média neste mês de dezembro de 2021, principalmente no litoral e no extremo sul do estado, que tiveram mais de 400mm registrados até o dia 28.

 

Itamaraju, no sul do estado, foi o município que mais choveu no Brasil, com 806mm de chuva, segundo os dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Este valor é mais de cinco vezes maior do que a média de dezembro (148,0mm).

 

Aliás, a Bahia, como um todo, está enfrentando a pior chuva para um mês de dezembro desde 1989. Porém, em 1989 a chuva mais volumosa, de mais de 600mm, foi registrada no oeste do estado baiano, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). 


Ilhéus é o segundo município com mais chuva no estado da Bahia, com 629,3mm - o que também representa cinco vezes mais do que a média para dezembro (122,8mm). 


Se analisarmos só o extremo sul baiano, como em Itamaraju, esse é o dezembro mais chuvoso desde o início das medições, que começou em 2014. Ao compararmos dados do INMET, este é o dezembro mais chuvoso desde o início dos dados do instituto, em 1961.

 

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Acumulados de chuva em dezembro de 2021 na Bahia. Fonte: Cemaden.

 

 

 

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Acumulados de chuva em dezembro de 2021 e de 1989 no Brasil. Fonte:INMET/Climatempo/Cptec

 

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Anomalia  de chuva em dezembro de 2021 no Brasil. Fonte:INMET/Climatempo.

 

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Anomalia  de chuva em dezembro de 1989 no Brasil. Fonte:INMET

 

Salvador está tendo o dezembro mais chuvoso em 32 anos

 

Destaque para Salvador (BA) com 377,6mm de chuva neste mês de dezembro de 2021, pois além de ser mais do que o sêxtuplo da sua Climatologia (que é de 58,1mm). Está tendo, até o momento, o dezembro mais chuvoso dos últimos 32 anos, desde dezembro de 1989, quando registrou 447,2mm.

 

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Acumulados de chuva nos mês de dezembro em Salvador (BA), desde 1977

 

Motivo da chuva da Bahia

Essas chuvas volumosas na Bahia tem relação com a formação de corredores de umidade constantes durante o mês, que vem da Amazônia, a mais recente pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Ressalta-se que foram três episódios de chuvas volumosas desde o final de novembro sobre as mesmas áreas baianas.

 

La Niña

Além disso, temos o fenômeno La Niña, que costuma trazer chuvas acima da média no Nordeste do país e aumentar a frequência de formação das ZCAS, associada com a temperatura superficial do Oceano Atlântico na altura da Bahia, que está bem mais quente que o normal. Isso ajuda na maior evaporação de água e, consequentemente, em um maior volume de chuva quando há sistemas meteorológicos atuando sobre a faixa costeira e proximidades.

 

Além disso, o gradiente horizontal de temperatura do Oceano Atlântico na altura entre a Região Sudeste e a Bahia (onde a parte do mar na altura de parte do Sudeste está mais fria que o normal em contraste com a parte mais quente que o normal na costa baiana) ajuda a deixar as frentes frias mais estacionadas sobre a região, auxiliando na formação e organização, além da persistência de corredores de umidade da Amazônia até Bahia.

 

 

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 Como se comporta o fenômeno La Niña no verão.Fonte: La Niña

 

 

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Como se comporta o fenômeno La Niña no verão.Fonte: La Niña

 

Vale salientar que no verão de 2020/2021 também houve o fenômeno La Niña, com intensidade moderada. E agora a de dezembro de 2021 também está tendendo a ficar moderada, com seu pico de intensidade previsto neste mês.

 

No final do ano passado (2020) a La Niña foi Modoki à Canônica. No verão de 2021, a La Niña Canônica está contribuindo com com a chuva acima da média.

 

 

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Anomalia da temperatura superfície do Oceano em dezembro de 2020

 

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Anomalia da temperatura superfície do Oceano em dezembro de 2020

 

Veja também: La Niña: o que é e quais os impactos no setor elétrico 

 

Oceano Atlântico e Niño Atlântico

É importante mencionar que a diferença do final deste ano (2021) para o ano passado (2020) é a temperatura superficial da faixa Tropical sul do Oceano Atlântico (TSA), que está bem acima do normal neste final de 2021, se compararmos com o ano passado (no final de 2020 estava abaixo do normal).

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Anomalia da temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico

 

Além do La Niña,  o Oceano Atlântico Tropical também é o principal indutor de precipitações na estação chuvosa do Nordeste do Brasil.  E quando a anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) no Atlântico Tropical Norte (TNA) é negativa e a anomalia do Atlântico Tropical Sul (TSA) é positiva, conforme a figura abaixo, o dipolo do Atlântico (TNA-TSA) é negativo e nessa circunstância, há um aumento da chuva na região nordestina. Ou seja, quando as águas estão mais quentes do que o normal na faixa Tropical Sul do Oceano Atlântico, há um excesso de chuva no Nordeste brasileiro.

 

 

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Anomalia da temperatura da superfície do Oceano Atlântico. Fonte: NOAA.

 

 Lembrando que estamos ainda no Niño Atlântico, que durante este ano de 2021 foi o mais forte já registrado, ou seja, desde 1950, quando começou a coletar os dados, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA). Lembrando que o Niño Atlântico é medido na faixa equatorial do Oceano Atlântico, próximo da África (o Atl3), e quando fica no mínimo 3 meses acima do normal, neste caso um entre 1 e 2°C acima da sua climatologia. Porém, na maioria das ocorrências variam entre 0,5 e 1,0°C, porém o 1,3°C foi o mais intenso desde seus registros.

 

Influência da Oscilação de Madden Julian (MJO)  

Além disso, estamos na fase 6 e 7 neste mês de dezembro, atualmente na fase 7, e de maneira forte, e nessas duas fases é que a oscilação Madden julian contribui bastante na formação com maior facilidade da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) nesta época do ano.

 

A oscilação de Madden Julian (MJO) é uma escala intra-sazonal e é um deslocamento para leste de uma célula zonal de grande escala termicamente direta num período entre 20 e 60 dias, que causa variações na convecção tropical. E ela começa sempre pela região do Oceano Índico. Os cientistas, quando estudaram as ligações deste fenômeno de escala global na distribuição e intensidade das chuvas tropicais, descobriram que o MJO contribui também na posição e intensidade das áreas de alta pressão subtropical e correntes de jato de latitudes médias. Além disso, afeta nas monções pelo mundo e na intensificação e formação de ciclones tropicais.

 

 

 

 

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Uma das fases da Oscilação Madden Jullian. Fonte:Climatempo

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Uma das fases da Oscilação Madden Jullian. Fonte:Climatempo

 

 

 Comparações com outros dezembros e janeiros pelo Brasil


Em dezembro de 2013 também houve registro de chuva volumosa, de mais de 700mm, só que no Espírito Santo, como em Vitória e em Santa Teresa (neste último caso com 837,8mm de chuva no mês), por influência em grande parte da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

 

Veja mais detalhe de como foi a chuva de dezembro de 2013

 

Em dezembro de 2015 também houve acumulados de mais de 700mm no oeste do Rio Grande do Sul, como em São Luiz Gonzaga.

 

Em Janeiro de 2020 foi bem chuvoso em Minas Gerais, como em Belo Horizonte que acabou registrando o janeiro mais chuvoso da sua história. Também pela influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A chuva acumulada naquele mês passou facilmente dos 900mm, sendo recorde histórico mensal em 110 anos de medições, desde 1910. O recorde anterior de mês mais chuvoso na capital mineira era o de janeiro de 1985, com 850,3 mm observados.

 

 

Previsão do tempo para os próximos dias

Para os próximos dias as chuvas continuarão na forma de temporais do oeste ao sul baiano, porém não serão tão volumosas na maior parte do estado da Bahia quanto nos últimos dias. 


Até quinta-feira da semana que vem (06/01/2022) são esperados excesso de chuva, com potencial para deslizamentos de terra e enxurradas sobre o Pará, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, centro norte e leste do estado de São Paulo e no Rio De Janeiro, além do oeste da Bahia. Estima-se acumulados entre 100 e 300mm de chuva em grande parte dessas áreas, como nas áreas em Laranja, Vermelho e Roxo, que ocorrem nos estados mencionados anteriormente e conforme indica na figura abaixo do modelo WRF(Weather Research and Forecasting Model) que foi rodado e gerado pela Climatempo

 

No norte de Goiás, em Minas Gerais e leste do Mato Grosso, os acumulados em média podem chegar aos 300mm em alguns municípios, alguns até ultrapassando esse valor, conforme indica na figura em rosa e cinza, pelo mesmo modelo.

 

Entre 28/12/2021 a 01/01/2022 o modelo numérico do GFS(Global Forecast System) aponta acumulados em torno de 300mm, em vermelho no mapa, no leste e nordeste do MT, no norte de GO, oeste da BA, e entre 100 e 200mm sobre SP, MG, RJ, GO, TO, PA, pontos do MA, do AM e no DF.

 

Isso se deve a organização de um corredor de umidade mais persistente, e a previsão de outro evento de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) a partir deste final de semana (01/01/2022), trazendo chuva desde o Amazonas até entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A chuva ganha mais força já a partir do dia 30/12/2021, quinta-feira, pegando a região Centro-oeste, Norte e MA ao oeste da BA. Porém, não se descartam danos pelo Brasil, por conta dos temporais entre esta terça (28) e quarta-feira (29/12) também. Ressalta-se o reforço das instabilidades por conta de uma área de baixa pressão atmosférica na costa do estado de São Paulo em 1,5km e em torno de 5km de altitude, na sexta-feira (31/12).

 

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Previsão de acumulado de chuva entre os dias 28/01/2021 e manhã de 04/01/2022 pelo modelo Weather Research and Forecasting Model (WRF). Fonte: Climatempo 

 

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Previsão de acumulado de chuva entre os dias 28/01/2021 e 05/01/2022 pelo modelo Global Forecast System(GFS). Fonte: Climatempo

 

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Previsão de acumulado de chuva entre os dias 28/01/2021 e 05/01/2022 pelo modelo Global Forecast System(GFS). Fonte: Climatempo

 

 

 Confira também: Nova ZCAS espalha muita chuva no BR na virada do ano

 Verão 2022 - previsão para todas as Regiões do Brasil

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