O clima sempre foi um dos principais reguladores da vida na Terra e hoje, mais do que nunca, entender suas mudanças é essencial para planejar o futuro.
O novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), “Climate Counts: Every Number Tells a Story”, reúne 30 indicadores que traduzem em números o impacto das mudanças climáticas sobre a sociedade, a economia e os ecossistemas.
Mais do que estatísticas, esses dados mostram tendências reais que já influenciam setores estratégicos como energia, agricultura, infraestrutura e saúde pública. E apontam caminhos possíveis para mitigação e adaptação.
Um planeta, um equilíbrio
O relatório começa lembrando o óbvio e o essencial: a Terra é o único planeta conhecido capaz de sustentar a vida.
Porém, as atividades humanas estão alterando rapidamente o equilíbrio climático que mantém essa condição. As emissões de gases de efeito estufa continuam em níveis que nos colocam em rota de aquecimento acima de 2 °C até o fim do século, superando a meta do Acordo de Paris, que busca limitar o aumento a 1,5 °C.
Cada décimo de grau faz diferença. Com 2 °C de aquecimento, o número de pessoas expostas a ondas de calor severas dobra em relação ao cenário de 1,5 °C, um dado que ajuda a dimensionar a urgência de reduzir emissões e fortalecer ações de adaptação.
O custo de agir e o custo de não agir
Um dos dados mais expressivos do relatório mostra que os prejuízos causados por eventos climáticos extremos são seis vezes maiores do que o custo estimado para cumprir as metas do Acordo de Paris.
Entre 2000 e 2019, os danos relacionados ao clima somaram cerca de US$ 16 milhões por hora, afetando a produção agrícola, a infraestrutura e a segurança energética.
Esses números reforçam que a inação é economicamente insustentável. Investir em adaptação, como sistemas de alerta, infraestrutura resiliente e gestão hídrica, é não apenas uma medida ambiental, mas uma estratégia de desenvolvimento.
Desigualdade climática e gerações em risco
Mais de 3 bilhões de pessoas vivem em regiões altamente vulneráveis aos impactos climáticos.
O relatório destaca que os efeitos das mudanças do clima não são distribuídos de forma igual: países e comunidades com menos recursos enfrentam riscos mais severos, mesmo tendo contribuído menos para o problema.
Outro dado chama atenção: crianças nascidas hoje enfrentarão até sete vezes mais eventos extremos ao longo da vida do que seus avós.
Isso inclui mais secas, enchentes e ondas de calor, situações que já impactam o Brasil, exigindo maior integração entre meteorologia, gestão territorial e políticas públicas.
Economia verde e transição energética
Os números também mostram que as soluções estão em curso.
A economia verde já representa quase 9% do mercado global e movimenta US$ 7,9 trilhões.
As fontes renováveis de energia, como solar e eólica, respondem por 15% da geração elétrica mundial, e devem mais que dobrar até 2030.
Para o Brasil, o cenário é promissor: com potencial renovável elevado e matriz elétrica majoritariamente limpa, o país pode ser protagonista na transição energética e na atração de investimentos sustentáveis.
Natureza e conhecimento tradicional como aliados
Mais de 17% das terras e águas continentais do planeta estão protegidas, mas o ritmo de perda de florestas tropicais segue elevado, cerca de 18 campos de futebol por minuto.
Essas áreas são vitais para a regulação do clima e da água, além de abrigarem a maior parte da biodiversidade terrestre.
O relatório também ressalta o papel dos povos indígenas, que administram 25% das terras globais e concentram 36% das florestas intactas. Suas práticas sustentáveis e o manejo tradicional são fundamentais para manter ecossistemas equilibrados e o clima estável.
Oportunidades e soluções
O relatório da ONU destaca que cada dólar investido em adaptação e resiliência pode gerar mais de dez dólares em benefícios em dez anos.
Investimentos em infraestrutura verde, tecnologia, gestão de riscos e sistemas de alerta antecipado reduzem impactos, protegem vidas e impulsionam o crescimento sustentável.
Atualmente, 28% das emissões globais já estão cobertas por mecanismos de precificação de carbono, um instrumento econômico que incentiva a redução de emissões e o financiamento de projetos de baixo carbono.
Clima: o eixo de todas as decisões
Com quase metade da população mundial abaixo dos 30 anos, as decisões tomadas hoje definirão o cenário climático das próximas décadas.
A mensagem do relatório é clara: o futuro não será apenas determinado pelas condições do clima, mas por como governos, empresas e cidadãos vão se adaptar e agir diante dele.
“Quando transformamos previsão em decisão, o risco vira eficiência. Adaptação não é custo: é continuidade operacional. O papel da meteorologia aplicada é antecipar cenários e apoiar escolhas que preservem vidas, ativos e produtividade.” — Pedro Regoto, especialista em clima e Head de Operações da Climatempo
Na Climatempo, acompanhamos essa transformação diariamente.
Por meio da análise de dados meteorológicos e climáticos, contribuímos para que empresas, setores produtivos e gestores públicos tomem decisões baseadas em ciência, reduzindo riscos e aproveitando oportunidades.
Fonte: Relatório Climate Counts: Every Number Tells a Story — Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), 2025.




