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Em todos os países do mundo, a infraestrutura rodoviária é um ativo de suma importância. Os impactos da mudança climática, bem como de eventos adversos, podem comprometer de forma grave sua integridade e segurança. Entre esses eventos, estão os aumentos de temperatura com formação de ilhas de calor, congelamento ou descongelamento no caso da região Sul do Brasil, precipitação intensa e inundações, além de tempestades.
Devido a esse cenário, faz-se extremamente necessário identificar a infraestrutura rodoviária que apresenta risco de ser afetada por qualquer evento climático e considerar estratégias e soluções para tornar a adaptação mais eficaz ao contexto do Clima. Gerenciar esse ativo requer tomadas de decisões eficientes por meio de processos de planejamento participativo, através do conhecimento prévio e sugestões locais.
As mudanças climáticas aparecem como um grande problema da sociedade moderna e os estresses climáticos geram efeitos em cascata nos diferentes sistemas da infraestrutura urbana, como os setores de água, saneamento, energia e também transporte. Mesmo que os sistemas de transporte e suas respectivas infraestruturas sejam projetados para suportar os padrões climáticos típicos, os impactos da mudança climática que surgem a curto e longo prazo podem influenciar na eficiência das operações de transporte e na capacidade da infraestrutura em resistir aos eventos adversos.
Diversos estudos mostram que os eventos climáticos geram consequências diretas na integridade e segurança da infraestrutura rodoviária, muitas vezes levando a acidentes graves e impactando nas viagens. Além disso, há provas concretas da redução da vida útil do pavimento, devido às mudanças climáticas, tornando necessário considerar essas mudanças em projetos da infraestrutura rodoviária.
Considerando esse cenário, a avaliação da exposição da infraestrutura rodoviária aos eventos climáticos adversos é de extrema importância para autoridades rodoviárias, instituições governamentais e pesquisadores ao redor do mundo, estes que estão enfrentando decisões desafiadoras sobre como projetar, planejar e gerenciar essa infraestrutura para suportar adversidades. As mudanças climáticas impactam todos os aspectos da infraestrutura de transporte, incluindo onde está localizada e como é projetada, construída e mantida. No entanto, a maior parte das infraestruturas foram concebidas, construídas e mantidas erroneamente com a premissa de que o clima futuro seria semelhante ao vivido no passado.
Os pavimentos são, frequentemente, projetados com base nos padrões de umidade e temperatura (refletindo a história do clima local) e os materiais usados para construção são constantemente selecionados com base em um clima estacionário. Entretanto, com as mudanças climáticas projetadas para as próximas décadas, um pavimento pode estar sujeito a condições climáticas muito diferentes ao longo de sua vida útil do que era originalmente esperado.
Nesse sentido, as mudanças climáticas apresentam impactos altos em termos de manutenção, reparos e perda de conectividade. Ainda assim, muitos desses impactos podem ser mitigados ou evitados por medidas de adaptação e de manutenção precoce, que reduzam a sensibilidade e aumentem a capacidade adaptativa (aspectos intrínsecos a vulnerabilidade), sendo essa uma consideração crucial para proteção dos investimentos atuais e futuros em infraestrutura e das funções econômicas, sociais e outras que eles desempenhem.
Assim, o aumento da resiliência urbana está se tornando uma das principais prioridades dos planejadores em todos os níveis de governo e da sociedade. Isso porque a infraestrutura que mantém todas as suas funções, mesmo sob estresse, seja ele climático de longo prazo ou eventos adversos, pode melhorar a capacidade das comunidades de resistir, responder e se recuperar desses eventos. Os impactos das mudanças climáticas estão destacando questões agravantes aos desafios existentes e adicionando tensões não planejadas às redes de transportes que já estão se degradando, mesmo sem considerações sobre essas mudanças.
Atualmente, a maioria dos estudos tem como foco medidas de mitigação dos efeitos dos transportes no clima, porém, existe um crescimento de estudos do efeito inverso, ou seja, para avaliar e documentar os impactos das mudanças climáticas na infraestrutura rodoviária, fornecendo orientações sobre os tipos de impactos, bem como as estratégias de adaptação e mitigação dos mesmos.
A Tabela 1(clique aqui) é uma compilação de estudos realizados, destacando a condição climática, os possíveis impactos na infraestrutura rodoviária, alguns métodos de identificação desses impactos e também as medidas de adaptação desse setor.
Inicialmente, é necessário identificar a infraestrutura rodoviária com risco de ser afetada por determinado evento climático, depois desenvolver medidas de adaptação de acordo com a região analisada, uma vez que cada uma apresenta suas peculiaridades e orçamentos.
Existem quatro aspectos a se considerar para as medidas de adaptação do setor de transportes: manter e gerenciar; fortalecer e proteger; aumentar a redundância; e quando necessário, realocar. Essas medidas devem estar ligadas a iniciativas para reduzir e gerenciar os riscos atuais e futuros, aumentando a resiliência deste setor e reduzir os impactos dos eventos climáticos adversos.
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A verdade é que é mais fácil introduzir e considerar os impactos climáticos logo no planejamento, do que depois que o sistema estiver completo e operando. Nesse sentido, além da adaptação da infraestrutura rodoviária, as cidades devem garantir resiliência às mudanças ao longo de toda sua vida útil, desenvolvendo medidas de adaptação considerando todos os aspectos do desenvolvimento e operação do transporte rodoviário, como planejamento, projeto, construção, operação e manutenção. Considera-se também a avaliação do custo de implantação de cada uma das medidas de adaptação, tendo em vista as limitações orçamentárias.
Ao decidir sobre os investimentos no setor de transporte, geralmente é colocado em ênfase um aumento da quantidade e qualidade da infraestrutura por meio de um foco na construção e abordagens básicas de análise de custo-benefício. Porém, novos estudos enfatizam que as falhas nos investimentos, principalmente em países em desenvolvimento e em decorrência de eventos climáticos, ocorrem devido a falta de capacidade técnica e estrutura institucional para apoiar projetos bem-sucedidos. Sendo assim, é necessário desenvolver capacidades para avaliar os impactos das mudanças climáticas no transporte rodoviário e considerar estratégias que tornem a adaptação eficaz dentro de cada contexto. A exposição a esses eventos climáticos varia por região, modo de transporte, localização/elevação e condição da infraestrutura de transporte já consolidada.
Se durante o planejamento do setor de transporte, houver um conhecimento adequado sobre as mudanças climáticas, já seria possível considerar as adaptações necessárias. Nesse sentido, existe a necessidade de: aumentar a conscientização das partes interessadas sobre os impactos de eventos climáticos; revisar os padrões já existentes de projetos considerando os possíveis impactos; introduzir diretrizes de avaliação dos impactos; estabelecer unidades organizacionais para implementar estratégias de adaptação; e melhorar a coordenação entre os interessados para desenvolver uma infraestrutura rodoviária resiliente.
Não se pode esquecer da importância, cada vez maior, da análise de dados espaciais prévios para avaliar o desempenho da infraestrutura rodoviária e sua gestão, incluindo dados climáticos e ambientais monitorados via satélite. Além disso, considerar os dados sobre a probabilidade e magnitude de eventos climáticos adversos, oriundos de registros de longo prazo de variáveis como a precipitação, temperatura e vento por meio de modelagem estatística.
As mudanças climáticas exigem, atualmente, que as cidades se tornem mais resilientes aos impactos de condições climáticas adversas em sua infraestrutura e operação. No setor de transportes rodoviário, essa realidade não é diferente, as vias urbanas são expostas a riscos que podem causar sérios danos em sua infraestrutura, bem como na redução da segurança viária.