O Brasil é o primeiro país a formalizar, em escala nacional, a adoção do Currículo Azul em parceria com a Unesco, inserindo a educação sobre os oceanos de forma transversal nas disciplinas escolares da educação básica. Com 388 escolas participantes em 24 estados, a iniciativa já é considerada uma referência internacional sobre como conectar educação, ciência e ação climática desde os primeiros anos de formação.
“Não existe solução climática sem conhecimento climático. E isso começa na escola, com uma abordagem integrada e conectada à realidade dos alunos. Quando o currículo escolar inclui o oceano, está dando o primeiro passo para a conhecimento sobre o futuro”, afirma Cátia Valente, Head de Governo na Climatempo.
Oceano: ponto de partida para compreender o clima
A relação entre o oceano e o sistema climático é direta e profunda. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), os oceanos absorveram mais de 90% do calor excedente acumulado no planeta desde os anos 1970, mitigando o aquecimento atmosférico. Além disso, dados do Global Carbon Project indicam que cerca de 30% do CO₂ emitido por atividades humanas é capturado pelas águas oceânicas todos os anos.
Também de acordo com a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), organismos marinhos como os fitoplânctons são responsáveis por produzir mais da metade do oxigênio que respiramos. Esses dados mostram que ensinar sobre o oceano é, na prática, ensinar sobre o clima — e sobre o equilíbrio que sustenta a vida no planeta.
“O oceano é onde o clima acontece. Aquecer o oceano é desequilibrar o clima. Ensinar isso desde cedo, na escola, é construir uma geração com pensamento sistêmico e consciência ambiental real”, reforça Cátia.
Educação climática para formar cidadãos resilientes
O Currículo Azul é parte da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021–2030), promovida pela ONU. No Brasil, a iniciativa é coordenada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A proposta pedagógica inclui o oceano em diversas disciplinas, como Ciências, Geografia, Biologia e Matemática, conectando temas locais à dinâmica global. Isso ocorre não apenas em regiões litorâneas, mas também em cidades do interior, como Dourados (MS), onde a Escola Estadual Floriano Viegas Machado participa do projeto.
“Muitos alunos talvez nunca vejam o mar pessoalmente, mas precisam entender que suas ações impactam os oceanos. Afinal, 80% da poluição marinha começa em terra firme, como mostram estudos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)”, explica a professora Juliana Ferraz, da rede pública.
Climatempo: ciência e tecnologia, educação e clima a serviço do futuro
Ao apoiar e dar visibilidade ao Currículo Azul, a Climatempo reforça sua missão de traduzir a ciência do clima em conhecimento acessível e útil para a sociedade. Atuando diariamente no monitoramento de chuvas extremas, secas, ondas de calor e riscos meteorológicos, a Climatempo apoia que a educação climática é uma das ferramentas mais eficazes para preparar o Brasil para um futuro de extremos.
“Educação e ciência precisam andar juntas. Um aluno que entende a relação entre oceano e clima hoje, será um adulto mais preparado para tomar decisões amanhã, seja na política, na economia, no consumo ou no campo. A transformação começa no currículo”, conclui Cátia Valente.
Fontes técnicas citadas:
IPCC – Sixth Assessment Report (2021–2023)
Global Carbon Project – Carbon Budget 2022
NOAA – Ocean Exploration & Research Facts
PNUMA – Marine Litter Report 2021
Unesco – Ocean Literacy Framework
Unifesp – Projeto Escola Azul
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – Brasil