Mudanças Climáticas e a morte dos Corais

15/10/2016 às 23:05
por Leandro Bellato

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O Aquecimento Global constitui uma grave ameaça a um dos ecossistemas mais ricos e frágeis que existe, com potenciais impactos na vida humana: os recifes de coral.

Embora sejam organismos sésseis quando maduros (ficam sempre parados, como árvores), com formas variadas e exóticas e também tenham um esqueleto duro como pedra, os corais são seres vivos. Corais são animais do filo Cnidária, o que os faz parentes próximos das águas-vivas — de fato suas larvas são animais móveis minúsculos, muitas vezes microscópicos, que lembram miniaturas de águas-vivas. Quando maduros, utilizam o carbonato de cálcio dissolvido na água do mar para construir seus exoesqueletos calcários muito duros, sobre os quais os corais das gerações futuras construirão seus próprios corpos. Após milhões de anos, as gerações sucessivas de corais mudam a paisagem e constituem um emaranhado complexo de estruturas duras, chamados recifes de coral.

 

Os simbiontes microscópios dos corais.

 

Os corais são a base de uma longa cadeia alimentar e seus corpos servem de abrigo ou sustento para uma infinidade de formas de vida, de algas a grandes tubarões. Os Recifes são o análogo marinho das grandes florestas tropicais em biodiversidade. Corais se alimentam de pequenos microorganismos em suspensão na água, mas também fazem fotossíntese através de simbiose com dinoflagelados do gênero Symbiodinium, que lhes confere as diversas cores pelas quais os corais vivos são conhecidos. Os simbiontes microscópicos fornecem energia ao pólipo do coral, e em troca recebem proteção e nutrientes. Em geral, cerca de 90% da nutrição de um coral maduro provém da fotossíntese de seus simbiontes. 

 

Mas este é um equilíbrio frágil. Conforme as águas dos mares esquentam, em virtude da paulatina e sistemática elevação das temperaturas de todo o planeta, por causa do Aquecimento Global, os dinoflagelados tem dificuldade em fazer fotossíntese. Além disso,  o excesso de dióxido de carbono na atmosfera causado pelas atividades humanas (como queima de combustíveis fósseis, queima de biomassa, etc) acidificam a água do mar, tornando-a menos favorável a diversas formas de vida, dentre elas, os corais.

 

O dióxido de carbono que se acumula na atmosfera por conta das atividades humanas  é dissolvido no mar, onde reage com a água e forma ácido carbônico. Quanto mais houver dióxido de carbono livre na atmosfera, mais dele será dissolvido na água e mais ácido carbônico será formado. Quanto mais ácido carbônico acumulado nos oceanos, mais ele fica acidificado. Num ambiente mais ácido, o cálcio dissolvido na água é mais facilmente incorporado a moléculas de bicarbonato de cálcio. A maioria das formas vivas, no entanto, só consegue utilizar o carbonato de cálcio: sendo assim é mais difícil para estes seres vivos formarem e manterem seus esqueletos calcários. E num ambiente mais ácido estes esqueletos, formados principalmente por carbonato de cálcio, são ameaçados por uma lenta e persistente corrosão.

 

Quando a temperatura da água aumenta, a fotossíntese dos simbiontes dos corais deixa de ser eficiente e o coral passa a sustentar as necessidades fisiológicas dos dinoflagelados sem receber muita coisa em troca. E quando fica difícil para os corais construir e manter seus esqueletos, seu organismo expele os simbiontes e os corais perdem a cor (e uma importante fonte de alimento e energia). Este fenômeno é chamado de Branqueamento dos Corais. Quando vários corais branqueiam num recife, competem ferozmente por alimento em suspensão, já que perderam a capacidade de fazerem (indiretamente) a fotossíntese: a maioria deles morre de fome. E por serem da base da cadeia alimentar, todas as formas de vida dependentes dele minguam e morrem aos poucos, até surgirem grandes desertos de corais mortos com pouca ou nenhuma vida marinha.

 

Um coral branqueado

 

A Grande Barreira de Corais, o maior recife ativo do mundo, situado junto à costa leste da Austrália, sofre com um branqueamento progressivo e áreas enormes já estão estéreis. Em todo o mundo os recifes vem morrendo. Como os recifes são importantes centros de reprodução de diversos animais, a oferta da indústria pesqueira fica potencialmente ameaçada, em virtude dos ecossistemas reprodutivos terem rareado. Assim, peixes, camarões, lagostas, caranguejos, siris, lulas e polvos tem muito da sua população diminuída e seu preço no mercado aumenta. 

 

Trecho estéril e branqueado de um recife

 

 

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