BR apresenta estudos de restauração de áreas degradadas

03/10/2019 às 12:53
por Redação

Atualizado 03/10/2019 às 12:58

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A meta brasileira é de restaurar 12 milhões de hectares

Nos últimos anos, muito tem se falado em restauração de terras degradadas. Um exemplo é o esforço global chamado Desafio de Bonn (Bonn Challenge, em inglês), lançado em 2011 a partir de uma parceria entre o governo da Alemanha e a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).

 

O objetivo é restaurar 150 milhões de hectares de terras desmatadas e degradadas do mundo até 2020 e 350 milhões de hectares até 2030.  Para aproveitar a audiência internacional no XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) realizado em Curitiba (PR), a IUFRO organizou um evento paralelo no dia 1º de outubro para apresentar o progresso alcançado na implementação da restauração em paisagens selecionadas em nove países.

 

O formato foi inovador, incluindo pequenos filmes, entrevistas com especialistas e informações agrupadas com pôsteres. As informações apresentadas no evento foram levantadas a partir de um estudo científico prévio em cada país, realizado durante esse ano.

 

Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, foi escolhida como coordenadora para representar o Brasil no projeto. Ela explicou que a apresentação teve por objetivo mostrar como os países estão trabalhando frente aos compromissos de restauração assumidos no Desafio de Bonn. Segundo a pesquisadora, a meta brasileira é de restaurar 12 milhões de hectares. O estudo utilizou paisagens representativas em cada um dos países, e a paisagem selecionada no Brasil foi o Sudeste do Pará, na região de Marabá.

 

Estudo padronizado 

 

“A ideia foi conduzir o estudo de forma padronizada, com um método semelhante em cada país, para permitir fazer generalizações úteis para orientar a restauração florestal. A região que escolhemos é a área mais desmatada da Amazônia, no arco do desmatamento, por isso consideramos que seria uma região interessante para o projeto. O evento paralelo da IUFRO foi parte desse processo de estudo para que pudéssemos apresentar os resultados preliminares e discuti-los com a comunidade científica e com tomadores de decisão. Desde o início, foi definido que o relatório deveria ser finalizado até esse momento, para ser apresentado e discutido no Congresso, ocasião em que representantes de todos os países estariam presentes”, explicou.

 

O levantamento rápido, chamado pela IUFRO de snapshot study, levantou no campo as informações. Nesse processo, foi importante conversar com os diversos atores envolvidos na restauração, e todos os países cumpriram essa etapa em suas regiões escolhidas, para entender como a restauração está sendo implementada no chão pelas pessoas de cada país.  

 

“Todos reuniram, a partir desse estudo, um conjunto de lições. Por mais que existam diferenças culturais, diferenças de governo, de posse de terra, de taxa de desmatamento, existem questões comuns que emergem. As lições do Brasil, por exemplo, podem ser aplicadas em outros países tropicais, que estejam implementando a restauração”, afirmou.

 

O estudo brasileiro, conforme a pesquisadora detalhou, envolveu mais de 50 entrevistas, em áreas dominadas por assentamento de reforma agrária. No Pará, a equipe da Embrapa se reuniu com instituições governamentais, não-governamentais, agricultores, empresas e universidades - todos os atores da região - para conseguir extrair lições que ajudem a aumentar a escala da restauração florestal. Também foram analisados diferentes projetos de restauração em andamento ou finalizados na região.

 

Um deles é desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio). O outro, chamado de Programa Rural Sustentável, foi desenvolvido pelo Ministério da Agricultura e financiado pelo governo britânico. O terceiro projeto, “Juventude e Cooperativismo”, foi realizado pela Federação de Cooperativas de Agricultura Familiar da região e tinha foco nos jovens filhos de agricultores, com o objetivo de fixar os jovens no campo e melhorar as condições de vida no campo, além da restauração. As lições selecionadas pela equipe brasileira para apresentação no Congresso foram baseadas nesses projetos.

 

Principais aprendizados   

 

Joice Ferreira apontou que um dos principais aprendizados nesse estudo é que existe um conflito de expectativas. Ela explicou que os agricultores são agricultores familiares que vivem em situação de vulnerabilidade, têm taxa de produtividade agrícola extremamente baixa e pouca assistência técnica, a maioria morando em assentamentos. Nesse contexto, a pesquisadora comentou que eles buscam apoio para produzir, se alimentar, ter renda, conseguir sobreviver e para melhorar de vida, porque eles não têm muitas oportunidades.

 

“Quando chega um projeto de restauração, se falarmos somente em restaurar com árvores, eles não têm interesse. Se a árvore não tiver um retorno para eles, há pouco interesse. A expectativa deles é conseguir ter alimentação e renda, e isso geralmente não é feito somente com árvore, pois ainda são poucas as espécies que trazem renda de curto prazo para o produtor. Claro que é uma questão de tempo, pois a biodiversidade amazônica é imensa. O agricultor entra nos projetos com a expectativa de desenvolver a parte agrícola, ao passo que um projeto de restauração tem objetivos múltiplos – sociais, ecológicos e econômicos. Assim, os coordenadores de projetos têm que buscar esse objetivo social, porque já se sabe que não é possível fazer restauração sem considerar o aspecto social. Porém, ao mesmo tempo, é preciso aumentar a cobertura arbórea, por conta da necessidade de aumentar os estoques de carbono e a diversidade de plantas nativas. Isso mostra que existe um descompasso, porque atingir esses múltiplos objetivos não é tarefa fácil”, reforçou.

 

Em outras palavras, ela diz que, para que o projeto possa dar certo, é preciso ter aproximação de todos os interesses. Ou seja: quem vai fazer a restauração é o agricultor. Se não atender às expectativas dele, não vai haver engajamento. “Essa foi uma lição muito importante, a de entrar no universo do agricultor para poder propor alternativas que tenham viabilidade para ele, porque ele também tem uma agenda. As famílias são normalmente pequenas, com poucas pessoas em relação à carga de trabalho. Assim, se arranjarmos mais um encargo para eles, eles não vão se envolver”, garantiu.

 

Queimada como fator limitante 

 

Além disso, a pesquisadora também apontou que, durante o estudo, eles perceberam que as queimadas também têm limitado o desenvolvimento dos projetos de restauração. Nas entrevistas, percebeu-se que muitas pessoas perderam as áreas restauradas por causa do fogo, que eles não tiveram condição de controlar. Ela disse, então, que os projetos de restauração precisam também de uma estratégia para que seja possível manejar o fogo ou controlar.

 

“Outra questão é que as secas na região estão aumentando muito. A região muito seca, em parte influenciada pelos desmatamentos do passado, traz muita reclamação dos produtores, pois exige irrigação, o que é caro e trabalhoso. Portanto, as iniciativas precisam considerar tudo isso, escolhendo espécies e formas de plantio adequadas, para que eles possam trabalhar em favor da restauração, sem que geremos um problema para eles”, detalhou.

 

O importante, na opinião de Joice Ferreira, é que essas lições não servem somente para o Brasil, pois seca e queimadas acontecem também em outros países. Por isso, a oportunidade de os países discutirem esses pontos comuns é ótima para a continuação do processo, que vai até o ano que vem, quando o relatório final será publicado.  

 

Michael Kleine, coordenador-geral da iniciativa da IUFRO, fez um resumo de tudo o que foi apontado nos estudos. Segundo ele, foram percebidos diversos aspectos além dos hectares, como desejo político; necessidade de governança da paisagem, comunicações e interações, aspectos técnicos e monitoramento e avaliação, além de capacidade de desenvolvimento e concepção/implantação do projeto. Por fim, ele citou que a restauração de paisagens é uma intervenção em um sistema social e que a transformação para um uso mais sustentável da terra leva tempo. Por isso, é preciso focar nas prioridades da restauração, pois esse processo pode contribuir para desenvolver uma economia circular de base biológica.

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Embrapa Florestas 

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