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por Josélia Pegorim e Maria Clara Sassaki
Agentes da defesa civil do estado de São Paulo, da polícia militar ambiental, Embraer e da coordenadoria estadual de defesa civil passaram cerca de 7 horas numa caçada insana para capturar um infrator ambiental. A perseguição ocorreu no dia 4 de julho de 2022 envolvendo diversas viaturas, uma equipe de 35 pessoas, e passou por vários municípios do Vale do Paraíba, entre eles Aparecida, Caçapava, Campos do Jordão, Cachoeira Paulista, Pindamonhangaba, São José dos Campos, Silveiras, Taubaté, Tremembé e Roseira.
O grande problema é que não havia como prever antecipadamente a rota do infrator e nem planejar um cerco por vários ângulos. Literalmente o infrator flutuava no ar, levado ao sabor dos ventos, podendo enveredar por locais de difícil acesso que dificultariam ainda mais a sua captura.
Seu grau de periculosidade foi considerado alto, pois poderia provocar um incêndio de grandes proporções, eventualmente em local de difícil acesso e de controle.
Uma história real
Caro leitor, agora que você já chegou até aqui neste texto, precisa saber que o infrator era um balão de São João, desses que se faz com papel colorido e sobe ao céu acionado por ar quente, e que esta história é real.
O balão desta caçada era enorme, mas caiu no alto de um morro e felizmente não provocou estragos.
Reproduzimos a seguir mensagens trocadas entre agentes da defesa civil de vários municípios do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, envolvidas nesta caçada ao balão, que foram cedidas à Climatempo
Balão em chamas sobre Caçapava (SP) / Foto: Defesa civil de SP
O balão foi na direção a Caçapava, passou por Taubaté, Tremembé, Aparecida e caiu no alto de um morro em Roseira. As fotos representam a viagem do balão.
Fotos: Defesa civil de SP
E o balão começou a cair sobre Aparecida....
Balão descendo sobre Aparecida (SP)/Foto: Defesa civil de SP
Finalmente o balão caiu na região de Roseira. As frases a seguir são de uma mensagem do grupo de whatsapp "Balão", gentilmente cedida pela defesa civil do estado de São Paulo para a Climatempo
"Defesa Civil de Roseira caçando o balão.
Fomos quase vencidos pela altura do morro, do Mato alto e enganados pelo balão. Mas graças a Deus vi no grupo balão caiu em Aparecida e não causou nenhum estrago.
Defesa Civil somos todos nós."
Era dos grandes! Muito grande!
Balão de São João caído sobre o alto do morro em Roseira (SP), em 4/7/2022 / Foto: Defesa civil de SP
Balão de São João caído sobre o alto do morro em Roseira (SP), em 4/7/2022 / Foto: Defesa civil de SP
Mas dois dias antes, em 2 de julho de 2022, Campo Limpo Paulista não teve a mesma sorte. O balão que caiu na mata por lá causou um incêndio de grandes proporções, como revela o relatório da defesa civil:
RELATO 294/22 - (03JUL22): CAMPO LIMPO PAULISTA (REPDEC/I-5 CAMPINAS)
A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC) foi cientificada, por meio Corpo de Bombeiros (COBOM), que no município de Campo Limpo Paulista, por volta das 14h de 02JUL22, pela Estrada dos Bulgueiros próximo ao Condomínio Champs Privés Residence Country Golf Club ocorreu 01 (um) incêndio de grandes proporções, devido queda de balão, atingiu uma área de tamanho indeterminado de mata natural. Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros que atua no sinistro com 03 (três) viaturas e suas respectivas equipes, o incêndio não atingiu áreas de residência e até o presente momento não há registro de vítimas. Ocorrência segue em andamento.
Perigoso, sempre
Este tipo de balão é mais comum de ser visto na época das festas juninas, pela tradição cultural, mas é solto também em outros meses e sempre é perigoso. Se eleva com o calor da queima de buchas inflamáveis que são presas ao balão. Ao cair, depois de passar algumas horas no ar, o balão pode iniciar muitos acidentes, tanto dentro das cidades como no meio rural, com diferentes graus de prejuízo.
Se um balão deste tipo cai aceso num local com vegetação seca, muito comum nos meses de inverno, que é sabidamente uma época de estiagem, pode iniciar um incêndio até de grandes proporções. Seja numa área de mata ou dentro de uma cidade, os coloridos balões que carregam essas tochas inflamáveis podem cair, por exemplo, num posto de combustível, ou sobre uma praça numa cidade onde as pessoas estão descansando, onde crianças poderiam estar brincando.
Não há argumento que prove que estes balões com tocha podem ser lançados ao céu com segurança. Não há uma guia que permita controlar sua trajetória ou altitude. O balão de papel colorido, típico das festas juninas, não pode ser guiado pela mão do homem. Ele viaja ao sabor do vento. O dinheiro e a hora de trabalho do funcionários públicos envolvidos na caçada a um balão poderiam ser usados para muitas outras coisas em prol da comunidade.
É possível saber com a previsão do tempo, qual a direção do vento predominante na região onde o balão hipoteticamente seria solto. Mas isso não evitaria a possibilidade de um grande risco de incêndio.
É crime
Se você ainda não está convencido da gravidade que é soltar no céu um balão de papel com bucha de combustível, saiba que isto é crime previsto na lei ambiental do Brasil.
Antigamente era comum soltar os balões coloridos nas festas juninas. Mas sempre teve o alto risco do artefato cair na mata e provocar incêndio. Sempre teve o risco do balão cair sobre uma torre de alta tensão, uma fiação elétrica dentro da cidade. Só que hoje tudo isso tem um risco ainda maior com o crescimento das cidades e os balões sendo soltos cada vez mais nos centros urbanos.
Você sabia que soltar os balões de São João é crime? Pois é! É crime ambiental previsto no artigo 42, da Lei 9.605/98, de 1998. Além de multa, a lei prevê pena de detenção de um a três anos para o infrator.
Multa alta
A multa para quem soltar balões com bucha de fogo acesa é alta! Segundo a informação vida defesa civil de São Paulo, o valor para cada pessoa envolvida é de R$ 10.000,00, dez mil reais Mas, por exemplo: se 2 pessoas soltarem 2 balões, cada um será multado em R$ 20.000,00. O valor total de multas para os envolvidos será de R$ 40.000,00.
Revendo a cultura
Os balões coloridos, típicos das festas juninas (às vezes julinas), são uma tradição do folclore nacional. Tantas músicas falam dos balões: “cai, cai, balão, cai, cai, balão, aqui na minha mão”, “o balão vai subido, vem caindo a agora, o céu é tão lindo”, “olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo, olha pra aquele balão multicor, como no céu vai sumindo”.
Vamos continuar cantando estas músicas, mas o balão deve ficar só na nossa imaginação. O risco de danos em áreas urbanas e rurais é grande. O prejuízo financeiro e ambiental é grande.
Não solte os balões de tocha acesa e não ajude a fazê-los Denuncie! Proteja a vida e a mata ao seu redor.
Agradecemos a defesa civil do estado de São Paulo pelas fotos cedidas para esta matéria.