Cantareira tem melhor verão em 5 anos

28/03/2016 às 12:20
por Josélia Pegorim

Atualizado 02/05/2016 às 23:35

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A crise hídrica acabou?

 

O Sistema Cantareira teve seu melhor verão em 5 anos. Considerando o período de 1 de dezembro de 2015 a 28 de março de 2016, choveu cerca de 925 mm, pela medição da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – responsável pelo monitoramento do nível de armazenamento de água dos mananciais que abastecem a Grande São Paulo.

A chuva de março de 2016 atingiu a média histórica. No dia 31 eram 179,6 mm acumulados, sendo que a média é de 178 mm. A chuva de fevereiro de 2016 ficou 22% acima da média e a de janeiro, cerca de 8% acima do normal. Em dezembro de 2015 choveu 18% acima da média.

 

O gráfico mostra o volume de chuva acumulado nos verões 2010/2011 até 2015/2016. No verão 2013/2014 (do início de dezembro de 2013 ao fim de março de 2014) choveu menos da metade do que foi observado neste verão.

 

 

No verão 2010/2011, o Cantareira acumulou um pouco mais de 1000 mm de chuva no período de 01/12/2010 a 31/03/20111

 

 

 

 

Chuva do El Niño recuperou o Cantareira

A chuva de 2015 conseguiu devolver ao Sistema Cantareira a água das reservas técnicas que foram disponibilizadas em 2014 para o Estado de São Paulo, para contornar a grande deficiência hídrica gerada pela falta de chuva dos verões de 2013/2014 e 2014/2015.

A chuva farta da primavera de 2015, associada com a forte atuação do fenômeno El Niño, foi fundamental para a recuperação do nível de água. No dia 30 de dezembro de 2015, o nível de armazenamento saiu do volume morto e atingiu o limite mínimo do volume útil.

No dia 13 de março de 2016, o nível do Cantareira estava em 36,1%, sem reserva técnica, considerando apenas a água do volume útil, segundo a Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

 

Nível de fim de estiagem no fim do verão

Numa situação normal, o nível de armazenamento de água de pouco mais de 30% no fim do período chuvoso (verão) é muito baixo. Mas se considerarmos que há dois anos várias represas do Cantareira eram enormes áreas secas, com terra rachada no fundo, a marca de 35% de armazenamento é até animadora. Com a chuva do El Niño, a recuperação do Cantareira surpreendeu e superou até as previsões mais otimistas feitas antes do período chuvoso começar.

Um nível armazenamento da ordem de 35% é o que se esperaria para o fim de um período de estiagem forte. Numa situação normal, após um período chuvoso dentro da média, o nível de armazenamento no fim de abril seria da ordem de 60%, num cenário pessimista ou da ordem de 90%, num cenário bastante favorável.

 

A situação atual não é confortável e nem totalmente segura para garantir o abastecimento no período de estiagem que se inicia com o outono, mas já tivemos situações piores.

O gráfico mostra o nível de armazenamento do Cantareira no fim do de abril nos últimos anos.

 

 

A crise hídrica acabou?

Não foi só a volta da chuva durante o ano de 2015 e no verão de 2016 que elevou o nível de água do Cantareira para a faixa do volume útil. A recuperação foi uma ação combinada da chuva com um conjunto de medidas de gestão da água adotadas pelos governos estadual e federal. Com as mudanças na forma da distribuição da água para a Grande São Paulo, o Sistema Guarapiranga passou a atender um maior número de pessoas, deixando o Cantareira em segundo lugar em número de pontos abastecidos.

Uma das principais medidas adotadas foi a redução da pressão da água que é bombeada do Cantareira, e que ainda continua em vigor, apesar do nível de armazenamento já estar no volume útil. A redução da pressão é uma forma de racionamento e por isso muitas pessoas ainda reclamam que suas casas não estão com o abastecimento normal.

 

Chuva de outono não enche represa

Uma das principais características do outono e do inverno na Região Sudeste é uma grande redução no volume médio de chuva. Esta diminuição do volume e da frequência da chuva  já será sentida em abril e mais ainda nos demais meses do outono e depois no inverno.

Daqui para frente, e até a próxima primavera quando se inicia uma nova estação chuvosa, não poderemos mais contar com grandes volumes de chuva, mas o consumo continua. Embora a redução natural da temperatura diminua a perda por evaporação, ao longo do outono e do inverno vamos ver o nível de armazenamento do Cantareira voltar a diminuir.

Não dá mais contar com a chuva dos próximos meses para encher represa. Dizer que a crise hídrica acabou pode ser prematuro. Chegar ao fim do período de estiagem sem deixar o Cantareira entrar novamente no risco do nível de água armazenada baixar ao volume morto vai depender principalmente da gestão da água, do uso consciente.

 

A favor da recuperação total do Cantareira é a perspectiva de uma primavera de 2016 e principalmente do verão 2016/2017 com a influência do fenômeno La Niña. Um dos importantes efeitos deste fenômeno é o de evitar que as temperaturas fiquem muito acima do padrão normal, o que diminuiria a evaporação.

 

 

O Cantareira saiu do volume morto, saiu do estado de coma e até da UTI, mas agora tem um longo processo de fisioterapia assistida até poder voltar a andar com suas próprias pernas, sem precisar mais de redução de pressão de água e nem de empréstimo de água para se manter operante.

Que algumas lições sobre o uso, reuso e gestão da água tenham sido aprendidas por governantes e pela população, pois o Clima é feito de ciclos e outras situações de crise de chuva vão ocorrer novamente.

 

 

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