Chuva de novembro foi boa para a energia

01/12/2017 às 23:14
por Josélia Pegorim

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Caixa d´água do Brasil está enchendo e a conta de luz deve baixar

(*) Depois de um outubro muito quente e seco, com decreto de nível 2 da bandeira vermelha, com os reservatórios do Sudeste baixando e com o fantasma de Sobradinho zerar, a chuva veio com força sobre o país em novembro e o cenário hoje é bem mais animador.  O nível 2 da bandeira vermelha é a pior situação que o consumidor pode ter. Significa que as usinas térmicas estão ativas, que a demanda é alta, que a geração térmica é igual o maior do que R$610,00 MWh e que a conta de luz aumenta R$3,50 a cada 100 kWh consumido.

 

Em outubro só chovia no Sul, mas depois as áreas de instabilidade se espalharam pelo país e na última semana tivemos uma forte convergência de umidade que possibilitou até a formação de um sistema muito parecido com uma ZCAS, a Zona de Convergência do Atlântico Sul, um sistema meteorológico típico de verão que provoca chuva volumosa em particular sobre o Sudeste e sobre o Centro-Oeste do Brasil.

Para se decretar que existe uma ZCAS é preciso que alguns fatores meteorológicos estejam presentes e recorrentes pelo menos 5 dias. No entanto, mesmo faltando um desses fatores foi observada muita chuva.

 

 

Chuva acumulada em novembro de 2017

 

 

Anomalia de chuva no Brasil em novembro 2017: os tons em azul 

representam chuva acima da média normal

 

 

Caixa d´água do Brasil está enchendo

Observe que choveu em grandes volumes sobre a “caixa d’água” de energia do país. O jargão “caixa d’água” é utilizado no setor elétrico para designar as áreas onde estão os principais reservatórios que sustentam a geração de energia no país.

 

 

Caixa d´ água do Brasil abrange GO, parte de SP, de MG e do TO

 

​É a região que abrange todo o estado de Goiás, o oeste e o sul de Minas Gerais, uma parte do norte do estado de São Paulo e a região de divisa de São Paulo com Minas Gerais. Estes reservatórios estão em grandes rios como o rio Verde, o Paranaíba, o Grande e o rio Tocantins.

 

 

Principais reservatórios para a geração de energia hidrelétrica no Brasil

 

 

Com tanta chuva, os principais reservatórios começaram a subir, inclusive o Sobradinho que termina recebendo toda a água que cai desde a Serra da Canastra, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, até o norte da Bahia. Os reservatórios do Subsistema Sudeste subiram ao todo 1%. Parece pouco, mas mostra que o período úmido começou (parou de baixar e já começou a subir)

 

A energia natural afluente (ENA) subiu bastante. A ENA é um termo técnico usado em geração de energia e que está ligada à vazão do rio – quantidade de água que corre por unidade de tempo. No subsistema Sudeste houve um aumento de 20% em relação ao início do mês de novembro. No entanto, em relação ao dia 15 de outubro (antes de começar alguma chuva), a ENA triplicou!

 

No Subsistema Nordeste, a ENA subiu muito em relação ao início do mês de novembro. A ENA no dia 01/11/2017 era de apenas 546 MWmed, enquanto que no dia 31/11/2017 chegou a 2521 MWmed. Isto é quase 5 vezes mais, porém não chegou nem na metade do que deveria gerar em novembro, que é em média 5446 MWMed.

 

No Subsistema Norte, a ENA está aumentando também, só que mais lentamente. Já os reservatórios ainda estão baixando, o que é normal devido à operação da ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico.

 

Como consequência, o preço da comercialização no mercado livre caiu muito nas últimas duas semanas, conforme relatório da CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Além disso, o governo já anunciou a volta para a bandeira vermelha nível 1. Ambos os sistemas de cobrança devem ir diminuindo ao longo das próximas semanas. Isto quer dizer que o preço vai cair no mercado livre e possivelmente devemos passar para as bandeiras amarela e verde nas próximas semanas.

Com previsão de mais chuva durante o mês de dezembro, a tendência é de que a conta de luz volte a baixar!

 

Crise energética acabou?

Vale lembrar que apesar da chuva esperada, não devemos ter o fim definitivo dos problemas de energia. Eles podem voltar ao longo de 2018! Isso porque nossas reservas estão muito baixas e precisaríamos de muito mais do que um período úmido “muito molhado” para reverter por completo a situação de deficiência energética atual.

 

Observe nos gráficos abaixo que estamos em uma situação muito perto do pior cenário já registrado no passado (de 2000 para cá), tanto no subsistema Sudeste, quanto no Subsistema Norte e no Nordeste.

 

 

Histórico do Subsistema Sudeste

 

 

Histórico do Subsistema Norte

 

 

Histórico dos reservatórios do Subsistema Nordeste

 

 

*Análise feita pelo meteorologista da Climatempo Alexandre Nascimento, especialista em previsão climática e consultor para área de Energia

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