Reabertura econômica pode ser perigosa: adeus ao ar mais limpo 

11/06/2020 às 12:12
por Redação

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Se o fim da quarentena resultar em mais carros nas ruas, poluição elevará mortes por COVID-19

por Cínthia Leone, do Instituto ClimaInfo, com informações da Assessoria de Imprensa da Universidade UNG

 

O isolamento social para controlar o avanço do novo coronavírus reduziu a quantidade de veículos circulando nas grandes cidades e, consequentemente a poluição do ar. Com a reabertura das atividades, o retorno dos carros à rua pode elevar sensivelmente a concentração de poluentes, o que favorece o agravamento de doenças respiratórias, incluindo  a COVID-19.

 

Pesquisadores da Universidade de Harvard estabeleceram a primeira ligação entre ar poluído e o novo coronavírus. Segundo o estudo (1), pacientes de áreas muito poluídas antes da pandemia que contraíram a COVID-19 têm mais probabilidade de morrer do que as pessoas infectadas que moram onde o ar é mais limpo.

 

O cenário cenário é mais preocupante no Sudeste, no Centro Oeste e na maior parte das Regiões Nordeste e Norte do país, onde os próximos meses são de poucas chuvas, o que dificulta a dispersão da poluição. 

 

Em cidades como São Paulo, a restrição à circulação de automóveis gerou uma redução notável de poluentes, mas que foi diferenciado nas diversas regiões da cidade (2) e (3).

 

Mas a diminuição da frota de ônibus fez com que o transporte coletivo se tornasse um vetor de transmissão do novo coronavírus. O que os especialistas temem é que, por medo de contaminação, mais pessoas optem por se deslocar de carro, levando a qualidade do ar a níveis piores do que o observado antes da pandemia. 

 

Uma pesquisa do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) (link) revela que os automóveis são responsáveis por 71% das emissões do poluente na cidade de São Paulo, contra 25% dos ônibus e 4% das motocicletas, levando-se em conta o material particulado lançado por pessoa transportada. 

"O material particulado lançado ao ar em virtude da queima de combustível dos veículos automotores é um poluente crítico e imperceptível ao olho nu”, explica o doutor em Geociências Fabrício Bau Dalmas, professor de Análise Geoambiental da Universidade UNG. “Ele afeta o pulmão e pode causar asmas, bronquite, alergias, além de outras graves doenças cardiorrespiratórias, podendo ocasionar óbitos."

 

Um estudo publicado pela Revista Brasileira de Epidemiologia (4) em 2011 já apontava um aumento de 3% a 4% da taxa de mortalidade diária por doenças cardiovasculares associadas à maior concentração de material particulado no ar. Para doenças respiratórias, a mortalidade diária é 6% superior, e pode chegar a um aumento 14,2% no caso de idosos, sendo que as pessoas mais afetadas são as que possuem piores condições socioeconômicas.

 

Podcast: pandemia, home office e economia de baixo carbono

 

"A redução na concentração destes poluentes poderia ser iniciada com uma drástica alteração no modal de transporte das grandes cidades, que deveriam focar mais em transportes coletivos e elétricos", sugere Dalmas.

 

 

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O ar que queremos

Foi exatamente para não agravar os problemas respiratórios que algumas cidades usaram o período de quarentena para repensar a mobilidade urbana, inclusive para além do transporte motorizado. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, tinha como meta que cada rua da cidade tivesse uma faixa para ciclistas até 2024. Com a chegada da pandemia, o medo do contágio no transporte público fez a prefeitura liberar 22 milhões de euros para a criação de ciclovias temporárias, gerando uma malha de 650 quilômetros de ciclovias na capital da França. 

 

Bruxelas, capital da Bélgica, usou a quarentena para transformar 40 quilômetros de faixas para carros e estacionamentos em novas ciclovias. Milão, na Itália, e Barcelona, na Espanha, que foram epicentros da pandemia, também aproveitaram o esvaziamento das ruas para aumentar as zonas calmas (regiões da cidade em que carros não podem circular), alargar as calçadas para incentivar o deslocamento a pé, e ampliar e reprojetar a malha de ciclovias. 

 

Em Bogotá, capital na Colômbia, 76 quilômetros de ciclovia começaram a ser instalados desde março. A prefeita Claudia López Hernández destacou que a medida ajudará na redução de doenças respiratórias sazonais no município, aliviando o sistema de saúde local em meio à crise do novo coronavírus.

 

Iniciativas como essas têm sido pensadas para as cidades brasileiras, mas pela própria população e não pelas prefeituras. A Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), por exemplo, está realizando uma campanha para que a capital paulista apresente um plano emergencial de abertura de ruas para a mobilidade ativa durante a pandemia do coronavírus. A principal aposta do projeto é a criação de cliclovias temporárias. 

 

“Com exemplos em diversas cidades ao redor do mundo, temos visto a bicicleta e o caminhar sendo pautados por políticos e lideranças como soluções para conter a contaminação da doença e tornar a mobilidade da cidade mais eficiente”, justifica o texto da campanha. A iniciativa pode ser acessada em http://www.ruasativaspandemia.bonde.org/#block-26999.

 

 

(1) https://www.hsph.harvard.edu/news/hsph-in-the-news/air-pollution-linked-with-higher-covid-19-death-rates/

 

(2) https://www.climatempo.com.br/noticia/2020/04/22/imagens-de-satelite-confirmam-reducao-na-poluicao-de-sao-paulo-3096

 

(3) https://www.climatempo.com.br/noticia/2020/04/07/quarentena-reduz-poluicao-em-sao-paulo-2756

 

(4) https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v14n3/09.pdf

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