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O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU), o órgão de ciência climática com a maior autoridade no mundo, aceitou hoje (20) o trabalho do Relatório de Síntese (SYR) do seu Sexto Ciclo de Avaliação. Este relatório resume o conhecimento trazido por este ciclo, que teve ao todo seis grandes relatórios (saiba mais no site do IPCC em inglês).
As negociações entre cientistas e diplomatas foram intensas na última semana e geraram um Relatório de Síntese que é uma espécie de “última chamada”, já que é improvável que o Painel se pronuncie novamente até bem perto do final desta década. E é nesta década que o mundo precisa agir para evitar que o aquecimento da Terra ultrapasse a marca de segurança de 1,5C estabelecida pelo IPCC – a meta do Acordo de Paris.
Especificamente, o Relatório atualizou a quantidade necessária de cortes de dióxido de carbono (CO₂) para manter a meta de 1,5C ao alcance: 48% até 2030, com base nas emissões de 2019; 65% até 2035; 80% até 2040; e 99% até 2050. Desde que o Acordo de Paris foi firmado em 2015, os países aumentaram seus níveis de emissão, incluindo o Brasil, que elevou o desmatamento, sua principal fonte de gases que aquecem o planeta.
O relatório do IPCC descreve a situação atual, cria cenários para o futuro e estabelece o que deve ser priorizado no curto prazo (até 2040).
Situação atual
São os humanos: Os cientistas dizem categoricamente que não há dúvidas de que as emissões de origem humana, alimentadas principalmente pela dependência de combustíveis fósseis e pela destruição das florestas, está causando o aquecimento global.
O aquecimento está acelerando: A temperatura global da superfície aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos. Em 2019, as concentrações atmosféricas de CO₂ foram maiores do que em qualquer momento em pelo menos 2 milhões de anos.
Está matando: A mudança climática já reduziu a segurança alimentar ao nível e afetou o ciclo da água ao nível global, e os eventos de calor extremo estão aumentando as taxas de mortalidade e de doenças.
Onde está o dinheiro? Pouco investimento está sendo feito para adaptar a sociedade à mudança do Clima, e muitos recursos estão indo para projetos que podem piorar o cenário, a chamada “má adaptação".
Planos fracos: as metas apresentadas pelos países até o momento são insuficientes para manter o mundo abaixo do limite de segurança 1,5C de aquecimento. E pior: os países não estão sequer cumprindo suas metas.
Boa notícia: o único aspecto positivo destacado no relatório é o crescimento das energias renováveis em muitas geografias, além de algumas ações bem feitas de mitigação dos impactos da mudança climática.
Cenários Futuros
Sumidouros de carbono: Os ecossistemas que capturam CO₂, como as florestas e manguezais, perdem esta capacidade a cada décimo de aumento na temperatura global e podem passar a emitir carbono, com evidências de que isso já está acontecendo, por exemplo, na Amazônia;
Mudança hídrica: o aumento contínuo das temperaturas tornará o ciclo da água instável, com chuvas e secas extremas cada vez mais frequentes, intensas e imprevisíveis;
Custa caro: As perdas e danos causados pela mudança climática vão aumentar a cada grau de aquecimento e devem interagir com outros riscos não-climáticos: competição por terras entre expansão urbana e produção de alimentos, extinção em massa de espécies, pandemias e conflitos.
Sem saída: em um mundo mais quente, a humanidade ficará sem opções para se adaptar – alguns ecossistemas e sociedades já estão perto de seu limite de adaptação;
Emissões negativas: o atual nível de aquecimento global significa que para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5C, o mundo deve também retirar emissões da atmosfera, mas tanto o reflorestamento, como as tecnologias para captura de carbono ainda não estão maduras e podem desperdiçar dinheiro ou criar outros problemas, como aumentar a competição por terras para a agricultura.
O que fazer no curto prazo (2040)
Depende de nós: Um mundo climaticamente seguro ainda é possível, desde que os cortes de emissão acelerem nesta década; reduzir as emissões agora significa gastar menos dinheiro com perdas e danos decorrentes da mudança do clima;
Mundo melhor: as medidas que combatem a mudança do clima também têm potencial para melhorar as sociedades ao reduzir a poluição atmosférica, que por si só já aumentaria a expectativa de vida globalmente. Elas também podem gerar novos e melhores empregos, melhorar a mobilidade e o planejamento das cidades, tornar a alimentação humana mais saudável e diminuir as desigualdades criadas pelo modelo de desenvolvimento atual;
Benefícios econômicos: Com essas melhorias, os governos vão gastar menos com saúde e com problemas decorrentes da expansão urbana mal planejada. O aumento do financiamento climático também é custo-efetivo, isto é, gera mais riqueza do que o investimento inicial;
Energia livre de emissões: O custo de implementação de renováveis é mais barato globalmente do que o custo de projetos de combustíveis fósseis, tornando este o momento ideal para encerrar a busca por mais combustível fóssil e acelerar a transição para energia livre de emissões, como Solar e Eólica;
Usar a terra com sabedoria: O uso do solo disponível para atividades humanas deve ser planejado com extremo cuidado, valorizando áreas de floresta e mangues e impedindo a expansão agrícola e imobiliária sobre essas áreas. As áreas já desmatadas devem ser recuperadas, os pastos improdutivos devem ser restaurados, e modelos de agricultura regenerativa e diversificada devem estar na prioridade dos países;
É um problema de cada um: A mudança climática é uma realidade global que só pode ser combatida por meio da cooperação internacional, que deve ser fortalecida e ampliada.