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Aumento do degelo da Antártida Ocidental é inevitável

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A aceleração do derretimento do manto de gelo da Antártida Ocidental neste século, e o subsequente aumento do nível do mar, é inevitável, segundo um estudo do centro de pesquisas British Antarctic Survey (BAS) divulgado na segunda-feira (23/10). Porém, esse processo poderá ser mais lento se o aquecimento global não ultrapassar 1,5°C.

 

Publicado na revista especializada Nature Climate Change, o estudo destaca que o derretimento do manto de gelo da Antártida Ocidental não é mais de uma questão de "se", mas de "com que velocidade". Os autores do estudo, Kaitlin Naughten, Paul Holland e Jan De Rydt, usaram um supercomputador para simulações de cenários de derretimento da região.

 

 

Antártida Ocidental representa apenas um décimo do continente meridional

(Foto: Liu Shiping-Xinhua News Agency-picture alliance)

 

"Nossa principal questão era quanto controle ainda temos sobre o derretimento da plataforma de gelo? Quanto derretimento ainda pode ser evitado se reduzirmos as emissões? Infelizmente, a notícia não é boa", afirmou a oceanógrafa Naughten.

 

 

Aumento do nível do mar


O estudo de Naughten concentrou-se na parte da camada de gelo da Antártida Ocidental que corre maior risco de derretimento por baixo, perto do Mar de Amundsen. Ela inclui a enorme plataforma de gelo Thwaites, que está derretendo tão rapidamente que ganhou o apelido de "Glaciar do Juízo Final". A Antártida Ocidental representa apenas um décimo do continente meridional, mas é mais instável do que o lado oriental, que é maior.

 

Os pesquisadores descobriram que, mesmo se o aquecimento global puder ser mantido a apenas alguns décimos de grau, isso teria "poder limitado para impedir o aquecimento dos oceanos que pode levar ao colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental."

 

Mesmo se as temperaturas subirem apenas 1,5°C acima dos níveis pré-industriais – o melhor cenário do estudo – o gelo ainda derreteria a uma taxa três vezes mais rápida do que no século passado.

 

A equipe de Naughten foi a primeira a usar simulações de computador que verificaram os efeitos da água quente derretendo a camada por baixo, analisando quatro cenários ligados a diferentes quantidades de dióxido de carbono liberados na atmosfera – em cada caso, eles descobriram que a erosão continuaria, o que significa que a camada poderia entrar em colapso.

 

"A redução das emissões pode ajudar a prevenir o pior cenário de degelo, mas, além disso, a mitigação tem um impacto insignificante", disse Naughten.

 

Naughten diz evitar a palavra "condenado", pois ainda é possível que as emissões e mesmo o aquecimento possam, teoricamente, ser interrompidos ou mesmo revertidos a longo prazo. "Não é inevitável que percamos tudo porque o aumento do nível do mar acontece a longo prazo. A análise do estudo vai até 2100."

 

O derretimento do gelo da Antártida Ocidental não só acelerará o aumento do nível do mar como também alterará as principais correntes oceânicas que regulam o clima global e terá um impacto negativo na Antártida Oriental, que armazena 90% do gelo do continente.

 

 

Ponto de inflexão no sistema climático

 

"Nossos dados indicam que perdemos o controle sobre o derretimento da Antártida Ocidental. Para mantê-lo numa situação semelhante à que estava há décadas, teríamos que ter agido sobre as mudanças climáticas muito mais rapidamente", destacou Naughten.

 

O estudo sugere que a mudança pode levar várias centenas de anos para se concretizar, mas Naughten apontou a velocidade final da transformação como um fator-chave. Ela disse que seria "absolutamente devastador" se ocorresse ao longo de apenas algumas centenas de anos, mas que a humanidade poderia se adaptar se a mudança pudesse se prolongar por alguns milhares de anos.

 

Ela ressalta que o lado positivo do estudo é que a previsão desta situação com antecedência dá ao mundo mais tempo para se adaptar ao aumento do nível do mar.

 

A pesquisadora afirmou ainda que o mundo deve continuar trabalhando para reduzir as emissões que causam o aquecimento global, incluindo a dependência de combustíveis fósseis, para evitar que esse derretimento seja ainda mais acelerado.

 

O colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental foi identificado como um dos nove pontos de inflexão do sistema climático em 2009. Na ocasião, cientistas destacaram que ultrapassar essas linhas vermelhas ambientais será catastrófico para a vida na Terra e provocará mudanças irreversíveis no clima.

 

Além deste colapso, as inversões das correntes oceânicas, a morte da Amazônia e o degelo da permafrost fazem parte desta lista.

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