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O que muda no verão com o El Niño?

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9 min de leitura

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Texto por, Josélia Pegorim e Vinícius Lucyrio - meteorologistas da Climatempo

 

O verão é considerado o período com chuva mais volumosa e frequente em quase todo o Brasil. É a época de formação da Zona de Convergência do Atlântico (ZCAS) e da Zona da Convergência Intertropical (ZCIT), os dois mais importantes sistemas meteorológicos geradores de chuva sobre o Brasil durante esta estação. 


Em um ano normal, grande parte da chuva anual ocorre durante o verão e nos períodos de atuação destes sistemas. O verão 2023/2024 não será um verão normal porque o fenômeno El Niño, que já influenciou o Clima no Brasil durante toda a primavera, vai continuar tendo forte atuação nos meses de verão.

 

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Foto: Getty Images


O fenômeno El Niño observado este ano é considerado de forte intensidade e vai influenciar todo o verão 23/24. Além do excesso de chuva no Sul do Brasil, que ainda será observado no verão, e da redução da chuva na Região Norte, que vai atrasar a recuperação do nível de água dos rios, e da diminuição da chuva no período chuvoso do norte do Nordeste, outro efeito do El Niño é alterar a distribuição da chuva também sobre o Sudeste e o Centro-Oeste.


Verão quente


Com a influência do El Niño, e não esquecendo de que temos um cenário global de oceanos e atmosfera muito mais aquecidos do que o normal, o verão no Brasil terá mais calor do que normal, embora ondas de calor intensas e abrangentes como as que ocorreram na primavera sejam menos prováveis.

 

O que muda no verão brasileiro com o El Niño?


O meteorologista Vinícius Lucyrio, da equipe de previsão climática da Climatempo, explica que o verão 2023/2024 será marcado por pancadas de chuva geradas pelo calor e alta umidade, e não por grandes e persistentes áreas de instabilidade, como ocorre quando temos uma ZCAS. Assim, a irregularidade espacial e temporal da chuva vai ser perceptível pela população.

 

"Estas pancadas de chuva geradas por calor muitas vezes serão fortes, o problema é que este tipo de chuva não cai sempre no mesmo local. Então, num dia chove forte em uma cidade e no outro na cidade vizinha, a 50 km de distância", comenta Vinícius.


Menor chance de ZCAS 


As grandes modificações na circulação de ventos sobre a América do Sul causadas pelo El Niño dificultam a organização da Zona de Convergência do Atlântico Sul, (ZCAS) que é o sistema responsável por períodos de chuva generalizada e volumosa sobre o Sudeste e o Centro-Oeste.

 

Vinícius Lucyrio prevê que "neste verão, vai ser mais difícil a formação e permanência de corredores de umidade e de formação de ZCAS sobre o Brasil. As projeções iniciais para o verão 2023/2024 mostram que o mês mais provável para organização de uma ZCAS será fevereiro de 2024."


Comparação com os verões 2020, 2021 e 2022


Vinícius também adverte que "Não podemos esperar por chuva semelhante à dos três últimos verões. Os verões 2020, 2021 e 2022 foram sob influência de La Niña, moderada a forte, fenômeno oposto ao El Niño. Tivemos vários episódios de ZCAS nos últimos três verões, e fortes, justamente com a ajuda do La Niña. Este próximo verão teremos a influência de um El Niño forte e que vai dificultar muito a formação de ZCAS".


Menos chuva no Norte e no Nordeste


Para a Região Norte, a previsão é de que a chuva no verão 23/24 continue abaixo da média na maior parte da região. Pode chover um pouco acima do normal no oeste do Amazonas, no Tocantins, mas só nos meses de fevereiro e março.


A porção norte do Nordeste, onde normalmente a chuva aumenta no verão, poderá ter chuva abaixo da média e temperaturas acima do normal, gerando deficiência hídrica justamente na quadra chuvosa do norte do Nordeste. Neste cenário, a tendência é de agravamento da seca


É importante lembrar que o El Niño tende a reduzir a chuva justamente na época do ano mais chuvosa no país. Dezembro, janeiro e fevereiro é o trimestre mais chuvoso na maior parte do Brasil. No norte da Região Norte e norte do Nordeste, o trimestre mais chuvoso é fevereiro, março e abril.


Chuva muito irregular no Centro-Oeste


No Centro-Oeste, a expectativa para o verão é de chuva muito irregular e abaixo da média em Mato Grosso, principalmente no oeste do estado, incluindo áreas do Pantanal. A partir de janeiro, a chuva deve ficar entre a média e um pouco acima em Goiás e no Distrito Federal.


Vinicius Lucyrio lembra que “a chuva naturalmente aumenta sobre o Brasil no verão, mas este ano, com El Niño, muitas áreas do Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste vão ter menos chuva do que o normal”.


Sudeste tem calor e chuva irregular


Com pouca chance de formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, a chuva deste verão na Região Sudeste também vai depender principalmente do calor, que gera as pancadas de chuva até de forte intensidade, mas que atingem pequenas áreas. Este tipo de chuva tem grande variabilidade temporal e espacial. Eventuais passagens de frentes frias pela costa do Sudeste vão ajudar a distribuir melhor a chuva.

 

Sul tem trégua na chuva intensa em parte do verão


A chuva da primavera de 2023 causou muitos danos para a população, na economia e na infraestrutura da Região Sul do Brasil. Com várias cheias de muitos rios, cidades ficaram praticamente submersas e grandes erosões foram observadas, a mais recente na região da cidade de Gramado, na região serrana do Rio Grande do Sul, onde grandes fendas se abriram em alguns bairros e construções ruíram.
De acordo com Vinícius Lucyrio, o Sul do terá um “alívio” nas catástrofes em janeiro e em fevereiro.

 

“Nestes dois meses, a chuva deve ficar concentrada no oeste e sul do Rio Grande do Sul, onde deve chover mais do que a média. Nas outras áreas da Região Sul, a temperatura fica alta e ocorrem pancadas de chuva típicas de calor. Assim, os volumes de chuva no verão tendem a ficar entre a média e um pouco acima. Mas mesmo assim, ainda tem risco alto de transtornos em toda a Região Sul por conta do solo já estar muito saturado.”


Mas Vinícius faz uma alerta muito importante! A chuva no Sul do Brasil dá esse relativo alívio em janeiro e em fevereiro, mas em março, o risco de chuva muito volumosa e persistente tende a aumentar novamente.


Sobre a formação de ciclones extratropicais e de frentes frias, Lucyrio explica que “eventualmente a formação de frentes e ciclones vai provocar chuva volumosa, de forma abrangente, mas a frequência desse tipo de ocorrência será menor no verão”.

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