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Por Guilherme Borges - Meteorologista Climatempo
O Brasil enfrenta um desafio duplo: o atraso no saneamento básico e os impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas. Enquanto o país luta para melhorar suas condições de saneamento, as mudanças climáticas exacerbam as deficiências existentes e apresentam novos desafios para as infraestruturas urbanas.
Desafios do saneamento no brasil: Um olhar sobre o censo 2022
Os dados recém-divulgados do Censo 2022 sobre saneamento básico mostram um quadro preocupante. Embora haja um avanço ao longo da última década, trata-se de uma melhora lenta e desigual. No ano retrasado, apenas 75,7% dos brasileiros viviam em domicílios com acesso a coleta de esgoto tida como adequada, enquanto em 2010 esse número era de apenas 64,5%. Isso significa que cerca de 49 milhões de pessoas, mais que a população da Argentina, ainda recorrem a fossas rudimentares, valas e águas de rios, lagos e mar. Além disso, dados mais completos revelam um cenário ainda mais preocupante. Apenas 52,2% do esgoto do país é tratado, atendendo a não mais que 56% da população. Essas condições colocam o Brasil em uma posição desfavorável no cenário internacional, ocupando o 76º lugar entre 129 países em um comparativo feito por agências da ONU.
Fonte:GettyImages
Impacto das mudanças climáticas na Infraestrutura de saneamento
O aumento na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas torrenciais, tem impactado significativamente a infraestrutura de saneamento urbano. A sobrecarga nos sistemas de abastecimento de água, de coleta e tratamento de esgoto, e de drenagem urbana são apenas algumas das consequências desse fenômeno.
Nas secas prolongadas, observa-se uma diminuição na quantidade e qualidade da água, o que sobrecarrega os sistemas de captação e tratamento e aumenta os riscos para a população. Além disso, as secas afetam as matas ciliares, reduzindo a recarga das águas subterrâneas, e aumentam a incidência de doenças transmitidas pela água. Por outro lado, durante as enchentes, há uma maior probabilidade de contaminação da água da rede pluvial pelo sistema de esgoto, o que pode gerar riscos à saúde pública.
Construindo resiliência no setor de saneamento
Diante desse cenário desafiador, é fundamental adotar uma abordagem proativa para proteger a infraestrutura de saneamento das mudanças climáticas. Isso inclui investimentos em previsão meteorológica precisa e sistemas de alerta rápido, bem como ações de longo prazo, como a proteção e integração de fontes de água, o reúso e dessalinização, e a redução da impermeabilidade urbana.
A falta de ação diante dos desafios do saneamento e das mudanças climáticas pode resultar em consequências devastadoras para as comunidades e o meio ambiente. Portanto, é imperativo que o setor público e privado atuem em conjunto para desenvolver e implementar estratégias de adaptação ao Clima para o setor de saneamento. Somente através de uma abordagem colaborativa e proativa será possível garantir a resiliência das infraestruturas de saneamento e proteger a saúde pública e o meio ambiente para as gerações futuras.