Pelo meteorologista Vitor Takao
De alívio à preocupação: o que mudou desde maio?
Entre janeiro e 19 de maio de 2025, o Brasil registrou uma queda de 45,6% nos focos de queimadas em relação ao mesmo período de 2024. O cenário parecia mais ameno, impulsionado por condições climáticas mais úmidas e o fim do El Niño. Mas, como já alertava a Climatempo, o pico da temporada de queimadas começa justamente em junho — e os dados mais recentes confirmam o início de uma escalada preocupante.
Desde o início de maio, o número de focos voltou a crescer de forma expressiva. Segundo o BDQueimadas, Mato Grosso lidera o ranking nacional com 2.849 focos, o equivalente a 21,3% do total brasileiro no período. O estado, que até 19 de maio somava 1.559 focos, praticamente dobrou seus registros em poucas semanas. Em seguida aparecem Tocantins com 2.711 focos (20,3%) e Maranhão com 1.778 focos (13,3%).
Juntos, esses três estados concentram mais da metade das queimadas registradas no Brasil desde maio. A maior parte desses incêndios atinge regiões de Cerrado e zonas de transição com a Amazônia e a Caatinga, evidenciando um padrão regional, mas com potencial de alastramento nacional.
Mesmo regiões menos afetadas, como o Sudeste, merecem atenção: São Paulo, por exemplo, já soma 183 focos (1,4%) no período.
Enquanto o Centro-Oeste e o Norte veem os focos de incêndio crescerem com o agravamento da seca, o Nordeste brasileiro enfrenta um duplo desafio. Segundo o Monitor de Secas, grande parte do interior nordestino já se encontra, desde maio, em situação de seca grave, com impactos relevantes sobre o abastecimento de água, agricultura e saúde pública. Mas há um fator a mais que amplia o risco na região: o início da chamada safra dos ventos. Esse período, que vai de julho a novembro, é conhecido por favorecer a produção de energia eólica — uma das grandes virtudes climáticas do Nordeste. No entanto, os ventos mais constantes e intensos também se tornam um vetor silencioso e perigoso para a propagação de queimadas. Mesmo pequenos focos, que em outros meses poderiam ser rapidamente contidos, ganham velocidade e alcance, dificultando o controle e ameaçando áreas rurais, vegetações nativas e perímetros urbanos.
A combinação entre estiagem prolongada, vegetação extremamente seca e ventos fortes cria um ambiente de altíssima combustibilidade, exigindo atenção redobrada por parte dos órgãos ambientais e das comunidades locais.
Essa correlação entre seca e queimadas mostra que o agravamento climático é um vetor central na escalada dos focos. Mesmo em áreas com menos atividade humana, o fogo se espalha com mais facilidade diante da vegetação seca, baixa umidade e ventos intensos.
O que esperar dos próximos meses? Atenção redobrada!
A tendência para os meses de julho a outubro é de aumento progressivo dos focos, especialmente se houver atraso no retorno das chuvas da primavera. Esse comportamento é recorrente e torna ainda mais importante o monitoramento contínuo das áreas de maior risco.
A queda nas queimadas no início de 2025 foi positiva, mas o avanço acelerado desde maio, com Mato Grosso à frente, evidencia que o cenário pode se agravar rapidamente. A crise da seca se soma aos fatores de risco e exige ações preventivas, fiscalização eficaz e alertas meteorológicos precisos, como os oferecidos pelos sistemas da Climatempo, para proteger a população, ativos de empresas e os ecossistemas mais vulneráveis.
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