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Pesquisa inédita: brasileiro ainda ignora a economia azul

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Foto: Caraguatatuba (SP), por Augusto P. Ayres

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Pesquisa inédita mostra que brasileiro reconhece contribuição do oceano para a economia, mas ainda ignora “economia azul” 

 

 

Foto: Caraguatatuba (SP), por Augusto P. Ayres

 

  • Em escala de 0 a 10, o reconhecimento da contribuição do mar para as atividades econômicas no país é de 8,6 
  • No entanto, apenas 1% da população conhece bem conceitos como “economia do mar” ou “economia azul” 
  • 25% dos entrevistados não souberam indicar ao menos uma atividade econômica relacionada com o mar 
  • Contribuição de atividades ligadas ao mar ao país chega a R$ 2 trilhões, o que representa 19% do PIB 
     

Os brasileiros reconhecem que o oceano contribui para os resultados de diversas atividades econômicas tradicionais, como a pesca, o turismo e a extração de minerais na costa do País, mas ainda ignoram o potencial de desenvolvimento sustentável e inovador que o oceano pode trazer para diversas cadeias de negócios.

 

Pesquisa inédita realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a UNESCO e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em uma escala de 0 a 10, o reconhecimento da contribuição do mar para as atividades econômicas no país é de 8,6. No entanto, o estudo Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar aponta que apenas 1% da população tem conhecimento sobre os conceitos de “economia do mar” ou “economia azul”, que propõem uma visão mais abrangente e sustentável da relação entre a humanidade e o oceano.

 

Foram entrevistadas 2 mil pessoas, homens e mulheres entre 18 e 64 anos, de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. O resultado foi apresentado durante a Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado em Lisboa.  

 

 “O estudo nos traz informações inéditas que mostram como a sociedade brasileira está conectada com o oceano e percebe a influência dele no seu cotidiano. A pesquisa nos mostra que as pessoas ainda têm muito a conhecer sobre a participação e a importância do oceano nas suas vidas e na economia. Nesse caminho, acreditamos que o conhecimento, a ciência e a inovação são fundamentais para buscar o equilíbrio entre a conservação do oceano, o bem-estar social e novas oportunidades econômicas”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. 

 

 

Riqueza que vem do mar 

 

O Brasil possui quase 7,5 mil quilômetros de costa, além de cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados de espaço marítimo chamado de Zona Econômica Exclusiva.

 

É do mar que vêm 95% do petróleo, 80% do gás natural e 45% do pescado do país. O oceano também contribui com o turismo, geração de energia renovável e escoamento de 95% do comércio exterior brasileiro. 

 

De acordo com estimativas da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, órgão do Governo Federal que reúne representantes de 15 ministérios, o mar gera R$ 2 trilhões por ano ao Brasil, o que representa 19% do Produto Interno Bruto (PIB). O cálculo considera a produção de petróleo e de gás, a defesa, os 235 portos do país, o transporte marítimo, a indústria naval, a extração de minérios, além do petróleo, o turismo, a pesca, as festas populares ligadas ao mar e a culinária marinha.

 

De acordo com projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a atividade econômica ligada ao Oceano em todo o mundo deve chegar a US$ 3 trilhões até 2030

 

As atividades desenvolvidas a partir do uso e/ou exploração de recursos marinhos – como pesca, aquicultura, extração de petróleo, transporte marítimo de cargas e passageiros e até atividades náuticas recreativas, esportivas e culturais – compõem a Economia do Mar. Quando essas atividades são desenvolvidas de forma sustentável, inclusiva e considerando o uso e a conservação do oceano, elas também se enquadram na Economia Azul. 

 

 

A relação do brasileiro com o mar 

 

A pesquisa mostrou que 86% das pessoas não conhecem os termos Economia do Mar ou Economia Azul. Apenas 1% disse conhecer bem os conceitos, enquanto 13% já ouviram falar. Quando questionados sobre atividades econômicas relacionadas ao oceano, de forma espontânea, os entrevistados destacaram principalmente as mais evidentes, como a pesca (58%), o turismo e a hotelaria (27%), a extração de minerais (25%) e a logística e o transporte de pessoas e mercadorias (22%). Chama a atenção também o número significativo (25%) de pessoas que não souberam apontar atividades econômicas relacionadas ao oceano. 

  

Algumas atividades com grande potencial econômico são pouco associadas pela população ao oceano, como geração de energia renovável (6%) e produção industrial (4%).

 

“É provável que esse desconhecimento também se reflita de alguma forma entre os próprios empreendedores e investidores. Temos o grande desafio de produzir e compartilhar conhecimento, ampliando a conexão das pessoas com o mar e seus diversos ecossistemas. Importante realçar que o futuro dos negócios e das agendas sustentáveis em todas áreas passa pelo conhecimento da Economia Azul, uma vez que, por exemplo, o oceano está conectado com a água dos rios, o ciclo da chuva e a regulação do Clima no planeta, o que impacta indiretamente atividades longe da costa, como a agropecuária”,

 

frisa Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). 

 

O professor ressalta que o potencial biotecnológico existente nos mares é parcialmente conhecido. Pesquisas indicam que estão no oceano respostas e curas para boa parte das doenças que existem e que venham a existir, com grandes possibilidades para o desenvolvimento de novos fármacos e vacinas. 

 

“Para desenvolver todo esse potencial econômico, sem comprometer os diferentes ecossistemas e a biodiversidade marinha, precisamos de mais cooperação entre os diferentes níveis de governo e amplos setores da sociedade”,

 

afirma Fábio Eon, coordenador de Ciências da UNESCO Brasil, lembrando que o tema da conservação marinha vem ganhando importância na agenda global, mas os esforços ainda precisam de maior participação em todos os setores e mais ações concretas. 

 

Em 2017, a ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano, que tem como um dos principais objetivos, justamente, incentivar a geração de conhecimentos para a sociedade. A pesquisa aponta, porém, que apenas 0,3% da população já está informada sobre a Década, enquanto 6% apenas ouviram falar sobre o assunto e 93% não têm conhecimento sobre o assunto.

 

“O estado de conservação do oceano é bastante preocupante. Uma avaliação global da ONU, realizada em 2021, mostrou que precisamos de ações urgentes para reverter o quadro de degradação e ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas”, alerta Eon. 

 

A população também foi questionada, de forma estimulada, sobre o quanto determinadas atividades econômicas são impactadas pelo oceano. Aparecem com destaque a pesca (de 0 a 10, tem média 9,3), o turismo e a hotelaria (média 8,6), o transporte e a logística (média 8,0), a indústria (média 8,0) e o empreendedorismo local (média 7,9), compreendendo setores como artesanato, comércio e alimentação. Entre as atividades econômicas mencionadas, a agricultura atingiu a menor média: nota 6,5. 

 

Apesar de não conhecerem em detalhes o potencial das atividades econômicas sustentáveis relacionadas ao oceano, os entrevistados têm uma percepção bastante positiva sobre a contribuição do mar para a economia do país. Em uma escala de 0 a 10, a média é de 8,6, com uma pequena variação entre as regiões do país – com percepção superior no Nordeste (8,9) e levemente inferior no Centro-Oeste (8,3). 

 

  

Busca por soluções 

 

A Fundação Grupo Boticário, com uma trajetória de 31 anos em prol da conservação da natureza no Brasil, é uma das representantes da sociedade civil no comitê da Década do Oceano no Brasil. Tendo a conservação dos ambientes e ecossistemas costeiros e marinhos como uma das agendas estratégicas, a Fundação tem histórico de apoio a pesquisas e ao desenvolvimento de negócios de impacto socioambiental positivo que promovam soluções para desafios do oceano. “Procuramos aliar a pesquisa científica a processos de inovação, comunicação e tecnologia para que mais pessoas e atores se envolvam com a causa oceânica de forma prática e sustentável. Acreditamos que negócios bem desenvolvidos têm potencial para serem replicados, gerarem maior impacto para a conservação e contribuírem com o desenvolvimento socioeconômico regional”, afirma Malu Nunes. 

 

Com mais de 250 iniciativas apoiadas em toda a costa brasileira, a atuação da Fundação a favor da biodiversidade e da conservação reforça os compromissos socioambientais assumidos pelo Grupo Boticário até 2030. Entre as ações apoiadas estão a Fiotrar – iniciativa que aproveita aparas de perucas em dispositivos que retiram poluentes do mar – e o Olha o Peixe – clube de assinatura de pescados que conecta pescadores artesanais e o consumidor final. 

 

 

Sobre a pesquisa 

 

Realizadas pela Zoom Inteligência em Pesquisas, as entrevistas ocorreram entre os dias 5 de março e 12 de abril de 2022. Entre os entrevistados, 62% residem em capitais e 41% vivem em cidades litorâneas. A margem de erro é de 2,2% para um nível de confiança de 95%. 

 

 

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