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Entenda o que é racismo ambiental

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Você já parou para pensar que é impossível falar sobre meio ambiente e mudanças climáticas sem falar de racismo? Infelizmente, essa é a realidade. Basta olhar para os últimos desastres que ocorreram no país e ver como são as principais vítimas envolvidas. Pessoas pretas, pobres e periféricas

 

 

Efeito da cheia do rios no Acre (Foto: Odair Leal /Secretaria de Saúde do Acre)

 

Um exemplo recente foi o desastre em Rio Branco, no Acre. As chuvas provocaram enchentes, deslizamentos de terra e deixaram milhares de pessoas desabrigadas. Entre as áreas mais afetadas estavam os bairros periféricos da capital, onde a população negra e pobre é concentrada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 68% dos moradores dessas áreas são negros.

 

As enchentes não foram uma surpresa para os moradores desses bairros. Há anos, a falta de infraestrutura adequada e de políticas públicas eficazes para prevenção de desastres naturais tem sido uma realidade. O resultado é que, quando ocorrem as chuvas, as pessoas mais vulneráveis são as que mais sofrem.

 

A situação é ainda mais grave quando se considera que muitas das famílias afetadas pelas enchentes são compostas por trabalhadores informais que já haviam sido impactados pela pandemia de Covid-19. Com a falta de assistência do poder público, muitas dessas pessoas tiveram que improvisar abrigos em escolas ou outros prédios públicos.

 

O estudo "Cidades e Urbanização na Amazônia Legal: diagnóstico, tendências e perspectivas" realizado por Flávia Chein e Igor Procópio, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do projeto Amazônia 2030, demonstra que na Amazônia como um todo a situação é ainda mais delicada

 

O padrão de urbanização da Amazônia Legal é diferente do restante do país, com população dispersa, baixa densidade demográfica, ausência de "cidades médias", pouquíssimas metrópoles e grandes distâncias entre centros urbanos.

 

Essa configuração tem um impacto maior na qualidade de vida da população não branca, que enfrenta dificuldades para ter acesso a serviços básicos de infraestrutura, como rede geral de abastecimento, coleta de lixo adequada, energia elétrica e rede de esgoto.

 

O racismo ambiental, nesse contexto, se manifesta de várias formas. Em primeiro lugar, na falta de investimento em infraestrutura e prevenção de desastres nas áreas periféricas, onde a população negra e pobre é concentrada. Em segundo, na falta de assistência adequada às vítimas das enchentes, que em grande parte são pessoas negras.

 

 

Racismo ambiental não é um fenômeno novo

 

É importante notar que o racismo ambiental não é um fenômeno novo. Ele tem raízes profundas na história da opressão e exploração que afetou muitas comunidades negras e indígenas ao longo da história.

 

A segregação racial e a discriminação econômica que caracterizaram grande parte da história brasileira tiveram um impacto profundo na forma como as cidades foram construídas e desenvolvidas, e muitas dessas desigualdades persistem até hoje.

 

Porém, isto não vai mudar enquanto as pessoas mais vulneráveis e expostas às externalidades e fenômenos ambientais nocivos permanecerem excluídas dos lugares de tomada de decisão. É a discriminação racial no debate público, na elaboração de políticas ambientais, aplicação de regulamentos e leis e também da exclusão de pessoas pretas da liderança de movimentos ambientais.

 

A população negra é maioria no Brasil, no entanto, apenas 32% dos deputados federais, estaduais e senadores eleitos se declaram como pretos e pardos. Na prática, os números são ainda menores, uma vez que mais da metade desses parlamentares seriam considerados brancos, se fossem seguidos os critérios de uma banca de heteroidentificação racial.

 

O tema é o mais urgente das mudanças climáticas, seja nas periferias dos grandes centros urbanos ou nos países menos desenvolvidos. Mas, só será combatido com efetividade quando mudarmos o cenário racial dentro das casas legislativas e executivas. 

 

 

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