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As consequências da suspensão do acordo de grãos pela Rússia

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A Rússia anunciou nesta segunda-feira (17/07) que suspendeu o acordo para o transporte marítimo de grãos produzidos na Ucrânia, que contribuía para o equilíbrio no preço global de alimentos e o combate à fome no mundo.

 

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, anunciou que o acordo seria interrompido até que as exigências da Rússia para garantir suas próprias exportações agrícolas fossem atendidas. "Quando a parte do acordo do Mar Negro relacionada à Rússia for implementada, a Rússia retomará imediatamente à implementação do acordo", disse.

 

 

Os grãos produzidos na Ucrânia são essenciais para a segurança alimentar global

(Foto: Ukrinform/dpa/picture alliance)

 

A Rússia tem se queixado de que as restrições ao transporte marítimo e ao seguro estariam prejudicado suas exportações de alimentos e fertilizantes. No entanto, o país vem exportando quantidades recordes de trigo, e seus fertilizantes seguem fluindo para o comércio externo.

 

O acordo havia sido fechado no ano passado, com a intermediação da ONU e da Turquia, e garantiu que os navios não seriam atacados ao entrar e sair dos portos ucranianos. Um acordo separado facilitou o movimento de alimentos e fertilizantes russos em meio às sanções do Ocidente pela guerra na Ucrânia.

 

 

Por que o acordo é importante


A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores produtores agrícolas do mundo e os principais atores nos mercados externos de trigo, cevada, milho, canola, óleo de canola, semente de girassol e óleo de girassol. A Rússia também é dominante no mercado de fertilizantes, que são muito utilizados pelo agronegócio brasileiro.

 

Segundo a ONU, os grãos produzidos na Ucrânia se transformam em alimento para 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Por isso, quando a Rússia invadiu o país vizinho em fevereiro de 2022, muitos países apontaram o risco de aumento da fome, e a insegurança alimentar se acentuou especialmente na África e no Oriente Médico.

 

Os preços dos alimentos já haviam subido antes do início da guerra na Ucrânia, mas a invasão russa fez com que eles disparassem em todo o mundo. Além disso, o bloqueio russo do Mar Negro fez com que milhões de toneladas de grãos ficassem presas nos silos ucranianos, correndo o risco de apodrecer.

 

De acordo com a União Europeia (UE), "manter os suprimentos de grãos ucranianos continua sendo fundamental para a segurança alimentar global".

 

 

O que acontece agora


É incerto se a Ucrânia continuará a enviar as mesmas quantidades de grãos para o mundo. O alto custo do seguro dos navios pode ser um grande problema. Os navios que desejam atravessar o Mar Negro já precisam fazer um seguro de milhares de dólares. As empresas de navegação podem relutar em enviar seus navios pela zona de guerra se não houver o aval russo.

 

O transporte de grãos por terra também pode se tornar difícil. Desde o início da guerra, a Ucrânia tem exportado grandes quantidades de grãos por meio dos países do leste europeu, mas há poucos vagões de carga para exportar todos os grãos da Ucrânia por via terrestre.

 

Além disso, os agricultores de alguns países do leste da UE se ressentem do fato de os suprimentos ucranianos serem enviados por meio de seus países, dizendo que isso prejudica a produção local e tira o mercado de suas próprias colheitas. Em resposta, o bloco europeu impôs no início deste mês restrições à importação de grãos ucranianos, estipulando que eles podem ser transportados pela Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia, mas não podem ser vendidos nesses países.

 

A reação imediata do mercado de grãos à suspensão do acordo pela Rússia foi modesta, com os preços subindo cerca de 3% nos Estados Unidos e 2% na Europa, disse um negociador alemão à agência de notícias Reuters.

 

"Creio que há uma crença no mercado que a Rússia e a UE têm grandes suprimentos de trigo que poderão fazer frente à demanda mundial nos próximos meses, com a chegada das colheitas", afirmou.

 

No entanto, Hasnain Malik, chefe de pesquisa da Tellimer Research, disse:

 

"A suspensão do acordo do Mar Negro não é inesperada e pode pôr fim ao recente abrandamento dos preços dos grãos. Essa é uma má notícia para os importadores menores e mais pobres dos mercados emergentes, como o Egito."

 

 

Como funciona o acordo


O acordo regula as exportações de grãos dos portos do Mar Negro de Odesa, Chornomorsk e Pivdenny, controlados pela Ucrânia. Os navios devem atravessar o Mar Negro ao longo de um corredor marítimo humanitário em direção a Istambul.

 

Os navios em rota para e dos portos ucranianos são verificados em uma base controlada pela Turquia por uma equipe especial de inspetores russos, turcos, ucranianos e da ONU.

 

Duas forças-tarefa da ONU garantem que os grãos ucranianos possam ser transportados pelo Mar Negro e também facilitam a exportação de produtos alimentícios e fertilizantes russos.

 

 

O acordo foi bem-sucedido?


A iniciativa contribuiu para a queda e a estabilização dos preços dos alimentos. Mais de 30 milhões de toneladas de grãos e outros produtos alimentícios foram exportados até maio de 2023 graças ao acordo.

 

Os países mais pobres, em particular, foram beneficiados. Cerca de 64% do trigo foi para países em desenvolvimento, enquanto o milho foi exportado quase igualmente para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em março, porém, vários meios de comunicação informaram que cada vez menos grãos estavam sendo enviados da Ucrânia.

 

As exportações totais de alimentos viabilizadas pelo acordo diminuíram em cerca de três quartos em maio, em comparação com outubro do ano passado, já que mais empresas de navegação evitaram enviar navios pela rota perigosa. Mas as regulamentações rígidas também dificultam a rápida passagem dos navios.

 

"O secretário-geral da ONU está desapontado com o ritmo lento das inspeções e a exclusão do porto de Yuzhny/Pivdennyi da Iniciativa do Mar Negro", disse Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um comunicado na última terça-feira.

 

O lado russo tem reclamado que suas demandas não estão sendo atendidas e que as sanções ocidentais estão impedindo a exportação de seus próprios produtos agrícolas. O presidente Vladimir Putin argumentou a uma delegação de paz africana neste mês que o acordo de grãos não resolveu os problemas que os países africanos tinham com os altos preços globais dos alimentos, porque apenas 3% das exportações de grãos da Ucrânia estariam indo para os países mais pobres.

 

 

A importância do Mar Negro


O Mar Negro é uma região estratégica entre o sudeste da Europa e a Ásia, onde interesses marítimos, continentais, geoestratégicos e econômicos se conectam.

 

É o único canal para a Ucrânia exportar seus grãos para o mundo por via marítima. O acesso ao mar aberto e, portanto, à oportunidade de acessar outras rotas de exportação, só é possível por meio dos estreitos de Dardanelos e de Bósforo, ambos controlados pela Turquia.

 

 

Estreitos de Bósforo e de Dardanelos são as únicas saídas para o Mediterrâneo (Mapa: Getty Imagens)

 

 

Estreitos de Bósforo e Dardanelos são fundamentais para a conexão do Mar Negro com o Atlântico

(Mapa: Getty Imagens)

 

Arte: Climatempo

Este conteúdo é uma obra originalmente publicada pela agência alemã DW. A opinião exposta pela publicação não reflete ou representa a opinião deste portal ou de seus colaboradores. Logo Deutsche Welle Deutsche Welle

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