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22/09/2016 às 16:38
por Redação
Ameaçada por desmatamento, queimadas, uso insustentável do solo e dos recursos, Floresta Amazônica já perdeu 20% de mata. Pra proteger a floresta, cientistas propõem transformar a biodiversidade em tecnologia.
Chamada de "terceira via", a proposta dos cientistas enxerga a Amazônia como um patrimônio biológico global, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que "imitam" a natureza - o biomimetismo.
"Estamos dizendo que existe um valor agregado muito maior nos recursos biológicos da Amazônia que podem gerar uma economia muito robusta, de longo prazo, que sustentará um novo modelo e que é compatível com a floresta em pé", explica Nobre.
Desvendar de que plantas e animais são feitos, como organismos se locomovem e percebem o ambiente, por exemplo, são a chave para criação de materiais, sensores e até robôs do futuro. "Conhecemos o caso de uma espuma resistente produzida por um sapo que inspirou a criação de uma nova tecnologia de captura de CO2 da atmosfera", diz Juan Carlos Castilla-Rubio, um dos autores e presidente do conselho da Space Time Ventures, incubadora de start-ups de tecnologia.
Histórico de destruição
Em mais de 50 anos de exploração da Amazônia, que se estende por 9 países e ocupa 47% do território brasileiro, a expansão da agropecuária e ocupação já desmataram 20% da floresta. Segundo diversos estudos publicados por climatologistas, se mais de 40% da floresta for destruída, a mata densa não consegue mais se recuperar e se transforma numa savana.
A Amazônia também é fundamental no combate às mudanças climáticas – a estimativa é que suas árvores armazenem até 200 bilhões de toneladas de carbono. A liberação desse gás de efeito estufa na atmosfera poderia elevar a temperatura do planeta num ritmo ainda mais acelerado.
"Talvez a proposta de explorar esse patrimônio biológico seja, de fato, a única possibilidade de conservar a Amazônia", avalia Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA). "Mas é preciso muito cuidado para que haja a repartição de benefícios, para que a exploração dos recursos naturais não vire patentes nas mãos de empresas internacionais detentoras de tecnologia", alerta.
"Vale do Silício" amazônico
Para Castilla-Rubio, a Amazônia é o próximo centro de inovações do mundo, mas ainda é cedo para dizer se a floresta tropical será tomada por laboratórios de alta tecnologia. "Ainda não sabemos como isso vai acontecer exatamente, é um tema que vai durar 20 anos ou mais. Mas sabemos que a capacidade e conhecimento local precisam ser reforçados, e muito", comenta Castilla-Rubio, que compara o nível de dificuldade do projeto "à ida do homem à Lua" . Atualmente, apenas 2% dos doutores formados anualmente no Brasil vêm de universidade amazônicas.
Ao mesmo tempo, a Amazônia é o lar de cerca de 2,7 milhões de indígenas. Para que essas comunidades se beneficiem do "Vale do Silício Amazônico", a pesquisadora Bensusan diz que é preciso reverter uma tendência.
"Caminhamos para uma situação em que os conhecimentos tradicionais estão sendo desrespeitados. É preciso fazer um reconhecimento do importante papel que eles desempenham, não só identificando determinados princípios, mas também usando plantas e animais para processos de cura e cosméticos, fazendo a distribuição espacial de muitas espécies, e o manejo", critica Bensusan.
Nobre reconhece as dificuldades. "É difícil essa articulação do que realmente retorna para os povos da floresta quando o conhecimento deles é apropriado e se torna um produto no mercado. Mas a Lei da Biodiversidade está aí para ser testada", diz o cientista, fazendo referência à legislação aprovada em 2015, que prevê pagamento às comunidades indígenas por parte da indústria.
É por isso que a revolução impulsionada pela Amazônia tem que ser inclusiva, defende Nobre. "E a única maneira de isso acontecer é pela qualidade da educação. E não dá para eliminar o governo: é ele que tem que garantir capacitação profissional e pesquisa básica. A revolução vai acontecer, queremos que ela traga o melhor impacto e benefício para a floresta e quem vive dela", finaliza.
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