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Por que alguns indivíduos sequer notam que estão infectados com o vírus Sars-Cov-2, enquanto outros precisam se submeter a tratamento médico e respiração artificial, e no pior dos casos morrem? Devido a esses quadros clínicos tão diversos, é difícil definir quantos realmente contraíram o coronavírus, e quantos já desenvolveram imunidade, o que resulta num número elevado de casos não registrados.
Pesquisadores alemães e noruegueses analisaram a relação entre os diferentes grupos sanguíneos e a evolução do quadro clínico da covid-19, chegando a resultados surpreendentes, publicados nesta quarta-feira (17/06) na revista especializada New England Journal of Medicine.
Para o estudo, foram examinados 1.610 pacientes de covid-19 em estado grave da Itália e Espanha, com quadro de falha respiratória, alguns não tendo sobrevivido. Eles vinham de Milão, Monza, Madri, San Sebastián e Barcelona, epicentros em que a pandemia grassou com especial virulência.
Os cientistas examinaram determinados trechos do DNA dos pacientes onde ocorrem mutações genéticas frequentes. As características constatadas foram comparadas com amostras de sangue de 2.205 indivíduos saudáveis. O primeiro resultado é que os pertencentes ao grupo sanguíneo A parecem apresentar risco especialmente alto de uma trajetória grave da doença respiratória. A probabilidade de necessitarem oxigênio ou respiração artificial é duas vezes maior do que entre os portadores de grupo sanguíneo O.
Embora não esteja garantido contra uma infecção com o coronavírus, na atual situação, esse grupo pode se considerar bem-afortunado. Os que têm fator Rh negativo são, além disso, doadores universais de sangue. Os grupos A e O são os mais comuns, caracterizando, juntos, mais de 80% das populações ocidentais. O B e AB são bem mais raros, e se situam entre o tipo O e A em termos do risco de desenvolver formas graves de covid-19.
Caso se confirmem, os resultados do estudo também ajudarão no desenvolvimento de diversas terapias medicamentosas. No tocante a outras doenças, estudos científicos já estabeleceram uma correlação semelhante com os grupos sanguíneos. Sabe-se, por exemplo, que entre os portadores do tipo O são muito raras as formas graves de malária, e seu organismo está bem defendido contra uma evolução rigorosa do quadro. Por outro lado, o grupo A é o mais resistente à peste.
Nas pesquisas sobre os enigmas do coronavírus, até o momento o foco tem recaído sobre os grupos de risco, como portadores de doenças prévias, idosos ou fumantes. Agora os cientistas seguem uma outra pista no labirinto da pandemia.