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Crise hídrica se agrava pelo menos até outubro no SE e CO

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Foto: represa do sistema Cantareira (iStock)

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O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) promoveu no dia 24/8/2021 uma live sobre a crise hídrica que vem impactando o Sudeste e Centro-Oeste do país em 2021. O levantamento abrange as estações hidrometeorológicas operadas pelo SGB-CPRM nas bacias dos rios Grande, Paranaíba e Tocantins, que representam 80,86% da capacidade de armazenamento de energia do subsistema Sudeste/Centro-Oeste.

 

No Sudeste, por toda a extensão das bacias analisadas (rios São Francisco, Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, Doce, Itapemirim, Itabapoana, Paraíba do Sul, Grande e Paranaíba), as vazões preocupam.

 

Dos 51 pontos monitorados, 20 já atingiram no mês de julho a vazão mínima de referência (Q95%). Durante a segunda quinzena do mesmo mês, o rio Verde Grande secou na cidade de Jaíba, no Norte de Minas.

 

Nas próximas semanas, a previsão é que outros 13 pontos possam atingir a vazão mínima de referência. A vazão mínima de referência é baseada na vazão de outorga dos Estados ou União para concessão da de direito de uso de recursos hídricos.

 

A estiagem deste ano, associada aos déficits dos anos anteriores, vem gerando problemas de armazenamento nos reservatórios, geração de energia, navegação e ameaças ao abastecimento público de água.

  

O rio Paraguai vem, pelo segundo ano consecutivo, apresentando valores de nível d’água significativamente abaixo da média .

 

O município de Cáceres (MT) está atingindo os menores valores mínimos considerando toda sua série histórica de dados (com registros desde 1965). A previsão para a cota mínima ao final do período seco é que o rio Paraguai oscile próximo ao nível de -40 cm em Ladário. O nível continua na zona de atenção para mínimas nas demais estações.

 

Na bacia do rio Tocantins, as vazões do mês de julho de 2021 ficaram abaixo da média histórica registrada em todas as estações indicadoras. As mais críticas são Travessão, no Rio Vermelho, no município de Matrinchã em Goiás, e Barreira da Cruz, no Rio Javaés, no município de Pium, Tocantins.

 

 

Chuva abaixo da média

 

 A precipitação no ano hidrológico atual (período que vai de outubro a setembro) está acima da média apenas na área de drenagem da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, localizada na Bacia do Alto Tocantins, em Goiás. As chuvas vêm ocorrendo em quantidade cerca de 7% inferior à média nas áreas de drenagem da Serra da Mesa e Emborcação.

  

A área mais seca é a da Usina Hidrelétrica Nova Ponte, localizada no rio Araguari em Minas Gerais, em que a precipitação no ano hidrológico está mais de 20% inferior à média, embora Nova Ponte, Furnas e Emborcação também estejam abaixo da média. Por praticamente toda a extensão das bacias analisadas, o total acumulado de outubro a junho de 2021 foi menor do que a média histórica.

  

Em Goiás, Tocantins e leste de Mato Grosso, nos rios Manuel Alves, Araguaia, Caiapó, Claro, a precipitação acumulada de todo o ano hidrológico não só ficou abaixo da média de vinte anos para toda a bacia, mas é a mais baixa de toda a série. Em relação à bacia do rio Paraguai, a precipitação no ano hidrológico também é a mínima desde 2000/2001, sendo 34% abaixo da média.

 

 

 

Mapas de acumulado de chuva de 6 e 12 meses do ano hidrológico 2020-2021

 

Mapas do atual ano hidrológico mostram várias regiões classificadas como extremamente secas

 

A previsão do SGB-CPRM é que, neste ano hidrológico, possam ser observados valores de vazão inferiores aos anos anteriores, colocando este entre os anos mais secos da série histórica em diversas localidades monitoradas.

 

Em comparação com os anos hidrológicos anteriores, a precipitação em 2020/2021 não é a menor dos últimos oito anos. Os períodos de 2018/2019 e 2019/2020 foram similares ou superiores à média, enquanto que os anos hidrológicos entre 2013/2014 e 2017/2018 foram similares ou inferiores à média. No entanto, a estiagem deste ano está associada aos déficits dos anos anteriores, causando o agravamento do risco hídrico.

 

 

Água subterrânea é uma alternativa

  

Principal recurso em regiões de estresse hídrico, a água subterrânea abastece parcial ou totalmente mais da metade da população brasileira. A Rede Integrada de Monitoramento das Águas Subterrâneas (Rimas), operada pelo SGB-CPRM, tem 72 poços na região sudeste e 36 na região centro-oeste, totalizando 108 perfurações na área afetada pela crise hídrica.

  

De acordo com pesquisador do SGB-CPRM João Diniz, as vantagens da água subterrânea são que seu uso demanda baixos investimentos e tem baixo impacto ambiental, além da boa qualidade físico-química. Segundo Alice de Castilho, diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB-CPRM, as águas subterrâneas mostram-se mais resilientes às variações climáticas e evaporação do que as águas superficiais, garantindo um abastecimento de água mais seguro.

 

"A disponibilidade em qualquer tempo, somada à geralmente boa qualidade natural, boa proteção à contaminação, baixo custo de produção e grande flexibilidade na implantação dos sistemas de captação, tornam essas águas subterrâneas um recurso estratégico", afirma.

  

Os depósitos de água subterrânea ocorrem em áreas de bacias sedimentares, como a do rio Paraná, que abarca o Aquífero Guarani. As áreas afetadas pela crise hídrica têm 17 bacias sedimentares, mas a maioria dessas bacias não abrangem a região metropolitana. Espírito Santo, Rio De Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal não são ricos em águas subterrâneas porque não têm área em bacias sedimentares; entretanto, metade da população em Brasília (DF) é abastecida dessa forma.

  

O SGB-CPRM calculou a disponibilidade hídrica em cada um dos 2.533 municípios existentes nos estados afetados pela seca. Considerando o elevado valor de 100 litros por habitante por dia, os resultados foram animadores, de acordo com Diniz.

   


Impactos sobre a navegação

  

De acordo com o diretor da ANA Joaquim Gondim, a estiagem deve causar mais impactos sobre a navegação, que já está restrita na bacia do rio Paraguai e do rio Madeira, conforme vem monitorando o SGB-CPRM. Dessa vez na hidrovia Tietê-Paraná. A hidrovia depende da manutenção de um nível mínimo de 325,40 metros nos reservatórios de Ilha Solteira e Três Irmãos.

 

Há uma tendência de redução desses níveis, e possibilidade de interrupção do tráfego na hidrovia. Esta é a primeira vez que a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), desde sua criação em 2000, declara situação de escassez hídrica quantitativa.

 

No ano passado, a Agência promoveu 150 reuniões de salas de crise em 11 sistemas hídricos, com a participação do SGB-CPRM.

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