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Entenda a chuva muito volumosa na Região Sul

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9 min de leitura

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 por Fabiene Araújo

 

A chuva de outubro de 2022 está surpreendendo no Sul do Brasil. O acumulado apenas dos primeiros 17 de dias do mês está acima da média em muitas áreas de Santa Catarina, do norte do Rio Grande do Sul e no centro, oeste, sudoeste e sul do Paraná. Em alguns pontos do oeste catarinense, a chuva destes 17 dias de outubro de 2022   já se assemelham com os volumes altos registrados em outubro de 2017. Alguns locais do Paraná, os acumulados se comparam com outubro de 2021.No sudoeste paranaense, outubro de 2021 e de 2022 foram os que tiveram maior volume de chuva para este mês dos últimos 5 anos 

 

Pela imagem de satélite, do canal micro-ondas da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), é possível estimar que choveu entre 300 e 500mm sobre o centro-oeste catarinense e no sudoeste do Paraná na primeira quinzena de outubro de 2022. 

 

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Estimativa de chuva de 01 a 16 de outubro de 2022 por satélite. Fonte: NOAA.

 

 

Chuva no Brasil na primeira quinzena de outubro de 2022

 

Confira os maiores acumulados de chuva no Brasil em outubro de 2022, até às 11 horas do dia 17 de outubro, segundo as estações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais(CEMADEN), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico(ANA):

 

São José do Cerrito-SC(UHE Garibaldi Montante 475,6 mm (ANA)

Serranópolis do Iguaçu-PR(UHE Itaipu porto Capanema): 470,1 mm (ANA)

Água Doce/PCH Coronel Araújo Jusante(SC): 469,8 mm (ANA)

Galvão -SC(Esperança): 465,0 mm (Cemaden)

Planalto/UHE Itaipu ponte do Capanema(PR): 441,6 mm (ANA)

Água Doce/PCH Contestado Jusante(SC): 424,58 mm (ANA)

Novo Horizonte (SC): 420,8mm (inmet)

Passos Maia/PCH Victor Baptista Adami Montante (SC): 416,25 mm (ANA)

Faxinal dos Guedes/ PCH Santa Laura-Jusante (SC): 415,0 mm (ANA)

São Domingos/Centro(SC): 414,6 mm (Cemaden)

Passos Maia/PCH Rondinha Barramento(SC): 395,8 mm (ANA)

Nova Laranjeiras/Centro (PR) 399,2 mm (Cemaden)
Tangará/Centro (SC): 393,0 mm (Cemaden)
Pato Branco/Centro (PR): 392,31 mm (Cemaden)

 

Os mapas abaixo mostram a anomalia (diferença em relação a uma média padrão) de precipitação em outubro de 2022, até o dia 18), nos 31 dias de outubro de 2021 e em outubro de 2017. Os tons em azul indicam que choveu mais do que a média. Os tons em laranja, representam chuva abaixo da média.

 

 

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Acumulados de chuva de outubro de 2022, até a manhã de 18/10/2022. Fonte: CPTEC/INMET.

 

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Acumulados de chuva de outubro de 2021. Fonte: CPTEC/INMET.

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Acumulados de chuva de outubro de 2017. Fonte: CPTEC/INMET.

 

 

400 mm de chuva em 17 dias 

 

Pela estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em Novo Horizonte, em Santa Catarina, choveu 420,8mm em outubro de 2022, até às 11 horas do dia 17/10, sendo 72,4% acima da Climatologia do mês (244,1mm). 

 

Comparando com os dados do Inmet e interpolados, outubro de 2022 se assemelha a outubro de 2017, quando choveu 419,6mm. Há 5 anos não se tinha volumes acima de 400mm nesta cidade, em um mês de outubro. Além disso, esse é o maior volume de chuva para outubro nesta cidade, desde 2008, ano que começou a registrar dados nesta estação.

 

Em Laranjeiras do Sul, no Paraná,  a estação automática do INMET registrou  364,2mm em outubro de 2022, até às 11 horas do dia 17/10, valor que está 73,9% acima da climatologia do mês (209,1mm). Em outubro de 2021 choveu 367,7mm na cidade. Outubro de 2021 e de 2022 tiveram os maiores volumes de chuva desde outubro de 2017, com seus 432,2mm.

 

 

Por que está chovendo tanto em Santa Catarina e no Paraná?

Além da chuvarada de outubro de 2022 nos estados catarinense e paranaense, é preciso lembrar o Paraná  já teve relatos de chuva acima da média em setembro deste ano. A maioria das áreas registrou volumes de chuva mais altos para setembro, desde o El Niño de 2014/2015.

 

Correntes de jato mais fortes

 

No decorrer de setembro de 2022, como no início de outubro de 2022, o Oceano Pacífico equatorial a leste estava mais aquecido e gerou um gradiente mais intenso de temperaturas. Isto fortaleceu as correntes de jato nos altos níveis e também as correntes de jato nos baixos níveis da atmosfera, que são as responsáveis por trazer bastante umidade da Região da Amazônia para o Sul e Sudeste do país.

 

Este fluxo de ar quente e úmido estacionou sobre a Região Sul do Brasil e vários cavados meteorológicos nos níveis médios e altos atravessaram a cordilheira dos Andes, de oeste para leste. Estes cavados são circulação de ventos com tendência ciclônica, que ajudam a concentrar a umidade e o calor e estimulam o crescimento das grandes nuvens de chuva. Tudo isso deixou o tempo mais instável.

 

La Niña


Além disso, o fenômeno La Niña, que está ativo nesta primavera, facilita a passagem de frentes frias. Vale lembrar também que não tem havido bloqueios atmosféricos prolongados desde agosto.

 

Sem os bloqueios, as frentes frias se deslocaram livremente pelo litoral, como é normal em anos de La Niña. Mesmo passado pela costa, as frentes frias  ajudam a canalizar a umidade da Amazônia para o interior do continente.

 

 

Outros fatores que explicam a chuva de outubro no Sul do Brasil

 

Na primeira quinzena de outubro houve também a formação de áreas de baixa pressão atmosférica entre o Paraguai, Mato Grosso do Sul e Sul do Brasil e  a passagem de cavados meteorológicos. A circulação dos ventos em vários níveis da atmosfera, a posição das correntes de jato em altitude mais ao sul do país, a persistência do corredor de umidade direcionado da Região Norte para o Sul do país, além da passagem de frentes frias também são fatores que explicam os volumes de chuva muito acima do normal na Região Sul em outubro de 2022.

 

 

Além disso, a circulação anticiclônica nos médios níveis da atmosfera (em torno de 5 km de altitude) que predominou nos últimos dias sobre o Nordeste e em parte do Sudeste, fez com que boa parte da chuva se concentrasse mais em parte da Região Sul e em Mato Grosso do Sul  na primeira quinzena de outubro de 2022. Isto bloqueou os sistemas de instabilidade sobre o Sul do país, gerando muita chuva e por vários dias seguidos.  

 

Outro fator que pode ter contribuído para o aumento da chuva muito acima do normal é o dipolo do Oceano Índico (IOD). Na sua fase negativa, o IOD costuma trazer chuva acima da média para Santa Catarina e Paraná neste período do ano.

 

Tendência 

 

 

Até o dia 21 de outubro, a chuva mais intensa ficará concentrada na metade sul do país, com potencial para temporais e volumes elevados, acima de 150mm no Paraná, no extremo sul do Mato Grosso do Sul, norte catarinense, e no sul e sudoeste do estado de São Paulo.

 

Nesses dias, áreas de baixa pressão atmosférica na costa do sul do país, o fluxo dos ventos em vários níveis da atmosfera  vão levar mais instabilidades para o Sul do Brasil, com risco de temporais. Espera-se também acumulados de chuva elevados em Mato Grosso do Sul e em São Paulo, sobre parte do Rio De Janeiro e o centro-sul de Minas Gerais. 

 

Atenção: a baixa pressão atmosférica que se forma no Sul do país no dia 20 de outubro vai gerar um ciclone extratropical, que dará origem a uma frente fria nesta sexta-feira, dia 21 de outubro.

O corredor de umidade que se organiza nesta sexta-feira, 21, vai ajudar a espalhar a chuva, com grandes volumes sendo esperados sobre  Sul do país, Sudeste e Centro-Oeste.

 

O primeiro mês da primavera de 2022 termina com tempo muito instável em grande parte do Brasil, com risco de temporais e potencial para danos.

 

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