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Seca no Amazonas ascende o alerta para longo período de estiagem

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Texto: Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo

 

O estado do Amazonas vem enfrentando um período de estiagem que vem afetando algumas cidades do estado, inclusive a capital Manaus. Estamos no chamado "verão Amazônico" que é o período onde chove menos em grande parte da Região Norte do Brasil, que vai de junho até outubro. Porém, em 2023, vem chovendo menos do que o normal.

 

Manaus: pouca chuva e muito calor


Até o momento, a cidade de Manaus teve apenas 2 meses com chuva acima da média (fevereiro e março) e um mês com chuva dentro da média (junho), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Nos outros meses do ano, choveu menos do que o normal, com maior destaque para o mês de agosto, quando choveu apenas 18,2mm sendo que a média para o mês é de 56,1mm. Vale ressaltar que agosto é o mês com menos chuva em Manaus e mesmo assim, o volume registrado da estação convencional do Inmet foi menos da metade.

 

Desde setembro, Manaus, vem registrando temperaturas muito acima do normal para a época e com registro de recordes históricos. No último domingo (01/10), mais uma vez o recorde histórico foi quebrado. Segundo a estação convencional da cidade, a temperatura máxima chegou a 39,5°, quase 6°C acima da média de outubro. 


Segundo os dados do Inmet, desde 1961, as três maiores temperaturas já registradas em Manaus aconteceram na última semana. Quando observamos as 10 maiores temperaturas já registradas, são dos anos 2023 e de 2015, dois anos com um forte El Niño em atividade e todas entre setembro e outubro.

 

Situação dos rios segue grave

 

Com menos chuva do que o normal e um calor muito atípico, muitos rios começaram a secar. Um dos que chama mais atenção é o Rio Negro, que é o maior afluente da margem esquerda do Rio Amazonas (e o sétimo maior do mundo no quesito volume d'água).
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o menor nível já registrado no Rio Negro no ponto de Manaus foi em 2010 com 13,63 metros. Atualmente, o nível se encontra com 15,88 metros, muito abaixo da cota de alerta que é de 27 metros. O volume é tão baixo que em alguns pontos do rio é possível caminhar.


Quando vemos o histórico dos últimos 12 meses, podemos ver uma coisa muito interessante: em maio (dois meses depois dos meses com chuva acima da média) o nível do Rio Negro passou da cota de inundação que é de 27,5m e ficou acima desta cota até meados de julho, com o seu pico acontecendo no meio de junho com 28,27 metros (a cota de inundação severa é de 29 metros).


Ou seja, em apenas três meses, o nível do Rio Negro despencou mais de 10 metros, uma queda muito brusca e expressiva. No mesmo período do ano passado, o nível se encontrava por volta dos 21 metros.

 

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Foto: Getty Images

 

Previsão para os próximos meses


A previsão para outubro é de chuva abaixo da média em todo o estado do Amazonas, inclusive em Manaus. Aliás, esta é a previsão para a primavera como um todo: chuva abaixo da média e mais calor.


A Região Norte do Brasil é fortemente impactada pelo El Niño. O fenômeno atua no sentido de reduzir as precipitações durante o verão.

A primavera, e particularmente o mês de outubro, é uma época de pouca chuva na Região Norte. As pancadas ocorrem por causa do calor e da disponibilidade natural de umidade que há na Região. Em geral, não ocorrem grandes áreas de instabilidade sobre o Norte do Brasil em outubro.

 

 A expectativa é de que a chuva de outubro na Região Norte seja bastante irregular por causa da influência do El Nino, mas também do Atlântico Norte e do Golfo do México muito mais quentes do que o normal.

 

Atlântico Tropical Norte muito quente inibe a formação de nuvens de chuva
 

O cenário futuro é desfavorável para chuva regular por vários meses. A tendência é de chover menos e ter um ambiente mais quente do que normal pelo menos até o fim do ano. A primavera ainda não é época de muita chuva sobre o Amazonas e a tendência é de que chova menos do que o normal.


A meteorologista Ana Clara Marques, da equipe de previsão climática da Climatempo faz a seguinte análise.

 

“O Golfo do México e todo Atlântico Tropical Norte estão muito aquecidos há vários meses. Muito mais quente que o Atlântico Tropical Sul, região na costa leste do Nordeste do Brasil. Então, a forma como está o dipolo de temperatura do Atlântico Tropical, está mantendo os fluxos de umidade muito concentrados sobre o Hemisfério Norte, o que contribui para manter a Região Norte do Brasil mais seca e  atrasar o retorno das chuvas. Isso vai continuar durante a primavera também. As chuvas até vão acontecer em alguns dias de setembro e de outubro, mas de forma isolada, sem uma persistência grande."

 

El Niño no verão/2024
 

Durante o verão, que é a época mais chuvosa no Amazonas em toda a Região Norte do Brasil, o fenômeno El Niño estará com sua força total. É sabido que, no caso do Brasil, as regiões mais afetadas pelas mudanças atmosféricas causadas pelo El Niño são o Sul do Brasil, que tem mais chuva do que o normal, e a Região Norte, que tem redução das precipitações.

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